Por Leandro Modé, no Estadão:
O economista José Roberto Mendonça de Barros está à frente da consultoria MB Associados há 30 anos. Nesse período, já vivenciou várias crises - internas e externas. A atual, diz ele, sem pestanejar, é a pior de todas. "É um negócio muito, mas muito grave o que está acontecendo no mundo e vai nos afetar", afirma. Segundo ele, há muita incerteza no horizonte, o que deveria fazer o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) ser cauteloso na reunião que começa na terça e termina na quarta-feira.
Qual a sua avaliação sobre o Copom desta semana?
Não tenho dúvidas de que o Copom deveria parar com a trajetória de elevação dos juros neste mês e no próximo. Há quatro razões para isso. Primeiro, estamos no meio de enorme volatilidade, está difícil avaliar o que vem adiante. A segunda é que estamos vivendo uma paralisia, uma morte súbita do crédito, como nunca se viu. Além disso, as poucas operações de crédito feitas têm taxas de juros muito elevadas. A última observação tem a ver com o nível do dólar. Os colegas que acham que os juros deveriam continuar subindo dizem assim: O dólar está muito alto, isso vai causar inflação, então temos de aumentar os juros. Deve ser ponderado o fato de que o dólar está muito volátil. A experiência mostra que a volatilidade não vira preço, ou seja, o empresário não tem o termômetro adequadamente funcionando e, na dúvida, não dá preço de forma definitiva. Ao mesmo tempo, há indicações claras de redução de demanda.
O balanço de riscos hoje é francamente pendente para uma forte desaceleração da atividade?Exatamente isso. Veremos uma forte desaceleração na atividade econômica. Há três indícios bem objetivos que mostram uma redução brusca em ao menos alguns segmentos da demanda. Primeiro, saiu na quinta-feira o Índice de Confiança do Consumidor da FGV com uma forte piora. Segundo, os dados de consultas ao SPC mostram uma parada surpreendente. Em agosto deste ano, comparado com igual mês do ano passado, esse índice subiu 13,5%. Em setembro, a alta desacelerou dramaticamente para 0,2%. Na primeira quinzena de outubro, foi negativo em 0,4%. Além disso, temos a série da Fenabrave, que mostra que, na primeira quinzena de outubro, as vendas totais de veículos caíram 10,3%. Tem tudo a ver com crédito, mas tem outra coisa que também sugere cautela ao BC: a velocidade do ajuste da cabeça do consumidor. Isso tem muito a ver com o destaque que a imprensa dá à cobertura da crise, mas também ao uso de internet.
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