quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Zulia, reduto da resitência à Cháves, deve impor-lhe derrota na eleição regional de domingo

Estadão: Ruth Costas, MARACAIBO, VENEZUELA

Não é difícil entender por que, na reta final para as eleições regionais de domingo, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, está gastando tanta energia com o Estado de Zulia, cujos líderes são hoje o alvo preferencial de suas ameaças.

Quartel-general da oposição, Zulia é o retrato de uma outra Venezuela. Como definiu o próprio Chávez em um comício: uma Venezuela onde a sua "revolução bolivariana" ainda não começou. "Vamos converter Zulia em uma terra maravilhosa, em uma terra socialista", proclamou o presidente no fim de semana, na sua quinta viagem à região para impulsionar a candidatura do candidato do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) ao governo do Estado, Gian Carlo Di Martino.

"Vamos varrer (Manuel) Rosales daqui", completou, referindo-se ao governador da região e o principal líder da oposição e o centro dos ataques. Esse é um dos dois Estados onde os adversários de Chávez venceram na votação regional de 2004 - o outro é Nueva Esparta, onde fica o balneário de Isla Margarita.

Por seu peso econômico e populacional, Zulia é certamente o mais importante: é responsável por 80% da produção de petróleo venezuelana e 80% de todos os produtos agropecuários nacionais consumidos na Venezuela. Na margem ocidental do maior lago da América Latina, a sua capital, Maracaibo, também é a segunda mais populosa do país, depois de Caracas, com 3,2 milhões de habitantes. "

Para o presidente é uma questão de honra quebrar essa hegemonia da oposição em Zulia", disse ao Estado a cientista política Ruth Guerrero, especialista em marketing político da Universidade Rafael Urdaneta, em Maracaibo. "Nessas eleições regionais, a oposição está tentando conseguir mais espaço conquistando Estados como Carabobo e Sucre ou a prefeitura de Caracas. Para Chávez, a maior de todas as vitórias simbólicas seria conseguir que seus candidatos conquistassem cargos em Zulia."

O desafio é grande. No sábado até um "círculo bolivariano" da região resolveu dar seu apoio para candidatos opositores, alegando ter sido marginalizado pelo PSUV.

Segundo pesquisas, Rosales é o preferido na disputa pela capital (75% das intenções de voto) e seu candidato, Pablo Pérez, lidera a corrida pelo governo estadual (59%). Mas os aliados do presidente têm chances em municípios como San Francisco. Vitórias chavistas são raras, mas não impossíveis, pois o atual prefeito de Maracaibo é justamente Di Martino, que disputará o governo. Nas ruas da capital, cartazes dos dois grupos disputam qualquer pedaço de muro. Onde não há propaganda de Rosales e Pérez, há fotos de Chávez e Di Martino.

Os comícios governistas, numerosos na região, fazem parte de uma estratégia para tentar ligar a imagem dos candidatos à de Chávez e garantir que seus simpatizantes no Estado saiam de casa para votar.

?ENTRAVE PARA A REVOLUÇÃO?
"A oposição conseguiu bloquear o avanço da revolução por muito tempo aqui em Zulia", disse Di Martino ao Estado. "Agora estamos mostrando para todos que é preciso avançar no projeto socialista."

A estratégia adotada por Chávez, no entanto, tem pontos arriscados. O principal deles são as ameaças contra os líderes opositores e o tom agressivo de seus discursos mais recentes. Nos últimos dias, ele dedicou grande parte de seu espaço na TV para acusar Rosales dos mais variados crimes: ligações com o tráfico, enriquecimento ilícito, conspiração para derrotá-lo e o uso dos recursos públicos para financiar opositores em outros Estados.

Com base nessas denúncias, o presidente promete fazer de Rosales o "preso número 001 de 2009". Ele também ameaça cortar os recursos para a região caso a oposição vença. "Estou sem salário há dois meses e sei que a culpa é de Chávez porque não repassa o dinheiro que é nosso região por direito", disse ao Estado um policial que não quis ser identificado. "Não acho que ele consiga muitos votos por aqui se continuar com tantas agressões."

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