Do O Tempo:
Em uma época de conciliação diplomática entre nações democráticas, poucos gestos podem ser tão desmoralizantes a um Estado quanto a retirada de um embaixador. O embaixador é o agente diplomático de mais alto nível, representante direto de um governo, de um povo. É o chefe das missões diplomáticas, o detentor de plenos poderes para representar seu país e até para celebrar tratados entre a nação que representa e a que o acolhe, conforme prevê a Convenção Internacional de Viena.
E, diante da decisão do Executivo brasileiro de conceder refúgio a Cesare Battisti - terrorista julgado, investigado e condenado na Itália por quatro assassinatos - essa é a resposta encontrada pelo governo italiano.
A comoção causada se reflete explicitamente nas palavras do deputado italiano, de centro-esquerda, Francesco Boccia. Ele diz que oferecer proteção a Battisti "é uma ofensa gravíssima contra a Itália e deve ser respondido com a retirada do embaixador italiano do Brasil".
O ponto de vista de Boccia encontra eco não só na opinião pública italiana, como também em outros países. Conceder refúgio a um terrorista que sequer se mostra arrependido, é como imputar à Itália a condição de opressora de adversários políticos. É como manchar uma democracia - que foi constituída com o suor e a dor de cidadãos e com a abnegação de heróis civis que defenderam a dignidade do país, sobretudo contra os transgressores que, como Cesare Battisti, promoviam insanos conflitos armados.
A saída do embaixador italiano Michele Valensise expõe o Brasil a uma condição incômoda - para dizer o mínimo - perante o mundo. Sob o argumento da soberania nacional, o governo brasileiro acaba por macular a sua imagem.
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