Ainda como colegas de PSDB, Maroca me deu uma ideia de como era morar Sete Lagoas por volta de 1980. Contou-me que era um lugar tão prazeroso para se viver que chegava-se ao ponto de se abreviar as viagens a praia tanto era vontade de estar de volta. Pelo visto é mesmo um saudoso tempo, sobretudo, se olharmos a evolução negativa do Índice de Desenvolvimento Humano no item renda (Ministério da Cidades). Em 1980 o IDH/renda registrava 0,950, em 1991 caiu para 0,817 e em 2001 o índice despencou para 0,714.
Por outro lado, a população da cidade deu um salto, entre 1980 e 2007, passou de 100.628 para 217.506 pessoas. Mais que dobrou. Conclusão óbvia, a população cresceu, a economia não se desenvolveu na mesma proporção. A esse cenário soma-se a incompetência, a omissão e a inércia história de administrações municipais patrimonialistas, clientelistas e populiltas chega-se ao quadro atual: colapso generalizado da infraestrutura.
O deficit estrutural vai da urbanização a educação. E, não é nenhum exagero afirmar que Sete Lagoas está em situação de calamidade pública. Faltam escolas, as que existem estão em péssimo estado de conservação; a saúde está na UTI, o único hospital público é precariamente equipado e funciona nas instalações de uma antiga escola, que mal foi adaptado para nova função. E o saneamento? Já é o caso intervenção superiror pelo grau de irresponsabilidade. A urbanização de ruas, calçadas e praças é péssima tanto na periferia como na área central e o estado de degradação é acelerado pela estouro diário e generalizado das redes de esgoto e água. O transporte funciona sem regulamentação e gerenciamento mínimo.
Bem, diante desse quadro, veio a eleição e a população imaginava que pelo menos um entre os postulantes ao executivo encararia a tarefa de apresentar um diagnóstico claro explicitando a gravidade da situação. Mais quê... Ninguém tocou de verdade nas feridas. Infelizmente a campanha nem roçou nos problemas, redundando em um espetáculo pasteurizado e alienante. Pena. Faltou um candidato com a coragem de dar um choque de realidade na população mostrando o estado das coisas e o porquê elas chegaram a esse ponto, revelando a magnitude e causa dos problemas. Se um dos candidatos, assim, agisse tiraria a campanha da pasmaceira que ela foi, e a população perceberia as as diferentes visões dos postulantes para o futuro da cidade, encerrando certas fantasias.
Mas o fato é que a população assinou um cheque em branco. E agora não sabemos se ele será usado para resolver os problemas coletivos e prioritários ou..., afinal, isso não foi negociado antes, não é mesmo? E também não sabemos ao certo quais são os valores das pessoas que assumiram. Dessa forma, podemos apenas fazer um exercício imaginário. Será um governo virtuoso e comprometido com o bem comum, ou um grupo patrimônialista, xenófabo e recalcado que sente nojo de um forasteiro sem pedigree como eu?
Quer dizer: as intenções estão ocultas. A cidade não sabe para onde vai e essa expectativa se transforma em uma crescente tensão a medida que o tempo passa. Maroca, por exemplo, não sabe o que dizer ou não pode revelar suas intenções? Nos quatro anos entre sua primeira candidatura a prefeito (2004) e sua eleição (2008) a cidade deixou nascer o mito Maroca, não procurou conhecer o Maroca, sua visão, seus valores e suas reais intenções. Alimentou uma fantasia que vai se esvaecendo muito rapidamente. Temo se Sete Lagoas já não começou conzinhar um novo mito para 2012. Será que não se vai aprender nada, não?
A realidade é muito dura tanto para quem governa como para quem é governado, para nos darmos ao luxo de cultivar fantasias. Conheço suficientemente bem Maroca para entender o quanto está sendo duro para ele o exercício do poder. Ele olha e vê a cidade do passado a população olha e vê através do mito criado a cidade do futuro. E medida que as expectativas conflitantes vão se desnudando ocorre o confronto. Já está ocorrendo. Se eu tivesse que fazer uma aposta, diria que o prefeito sofre menos com a pressão de administrar nesta crise do que com a frustração ver-se impedido de usar o poder para realizar o sonho regressivo.
Aqui vale uma analogia com o rio que ao chegar próximo do oceano treme de medo porque sabe entrar nele significa desaparecer para sempre. Mas aquele é seu futuro. O rio não pode voltar. Sete Lagoas também não. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. Sete Lagoas tem que aceitar que o futuro já chegou. O somente quando entra no oceano é que o medo desaparece, porque apenas então ele saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano. Assim é Sete Lagoas somente quando aprender a olhar para frente e aceitar que o futuro chegou vai se transformar tornando-se em oceano. Coragem Sete Lagoas porque aceitar o futuro não significa desaparecimento mas de renascimento. (Este post terá segmento na linha de Sete Lagoas tem um território que dá quase duas BH, surpreso?, pois é SL tem 537 KM²; BH KM 331 KM².)
Um comentário:
É uma pena ver que nossos vizinhos estão se dando mal. Acho que é por causa deste patrimonialismo exacerbado - constatado em diversos municipios mineiros -, que o estado de Minas Gerais jamais conseguirá alcançar o desenvolvimento que possui o estado de São Paulo. As cidades ao redor de Belo Horizonte precisam aprender o que é desenvolvimento, só assim, o coronelismo passará de verdade.
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