quarta-feira, 6 de maio de 2009

Matéria do Jornal Estado de Minas sobre corrupção em Sete Lagoas no PAC - VERBA DESPERDIÇADA

Por Marcos Avellar, Estado de Minas:
Município que recebeu a segunda maior verba do programa do governo federal enterra R$ 2,4 milhões em obra de novo interceptor de rede de esgoto, devido a erros grotescos

Durante a campanha eleitoral, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, foi motivo de discursos orgulhosos em cima de palanques em Sete Lagoas, na Região Central do estado. Mas, passados seis meses das eleições, o desperdício com a verba federal vem à tona. Um rápido cálculo em apenas uma das obras financiadas pelo principal programa do governo do presidente Lula mostra ‘que a cidade desperdiçou R$ 2,4 milhões, que estão debaixo de muita terra, por erros grotescos de projetos malfeitos. O município recebeu a segunda maior verba em Minas Gerais, cerca de R$100 milhões, atrás apenas da capital mineira.

Os montes de terras e os enormes buracos, que podem atingir até 13 metros de profundidade, já demonstram que existe um erro no projeto do novo interceptor da rede de esgoto do Bairro Vale Ondina, na periferia da cidade, uma das obras patrocinadas pela verba federal.
Segundo o atual gerente do PAC na cidade, o engenheiro Geraldo Guaraci, a obra é desnecessária porque já existe outra rede passando ao lado. E, do modo que foi projetada, a.nova rede inviabiliza qualquer outra ligação de esgoto ou mesmo sua manutenção, uma vez que a profundidade média é de oito metros. Ele explica que os projetos de grande profundidade são feitos para terrenos muito acidentados, o que não é o caso do local “Como o lugar é plano, o normal é ter quatro metros de profundidade. O que fizeram foi um erro básico de concepção”, lamenta o engenheiro.

O custo inicial da obra, uma rede de apenas 1,2 mil metros, era estimado em R$ 1,6 milhão. Mas, para minimizar o erro do projeto, a prefeitura deverá gastar outros R$ 800 mil, para construir uma rede mais superficial para atender as futuras edificações na região. E este gasto poderia ter sido bem menor. “Podíamos ter feito apenas uma obra, ao custo de R$ 800 mil, e economizaríamos cerca este R$ 1,6 milhão, que poderia ser gasto em outra obra essencial para a cidade”, garante Geraldo Guaraci. Ele calcula que com essa economia seria possível construir toda a rede de esgoto de um bairro carente de estrutura, como o Cidade de Deus, também na periferia de Sete Lagoas, que tem cerca de oito mil habitantes.

Para piorar a situação, há outro projeto no mesmo local. Está prevista a construção de um Anel Viário, que deverá ligar as rodovias MG-238 e. a BR-040, e passará no mesmo trecho de 1,2 quilômetro dos interceptores de esgoto que estão em grande profundidade. “Não houve uma consulta entre os dois projetos e se parte da rede precisar de manutenção, ela será totalmente inviabilizada”, explica o gerente do PAC. Mesmo com tantos erros nos projetos iniciais, o secretário de governo de Sete Lagoas, Nadab Abelin, garante que as máquinas não deverão parar. Como cerca de 95% da obra já estão concluí dos, parar neste ponto é desperdiçar ainda mais o dinheiro público. Além de desperdiçada, a’ obra está atrasada, uma vez que a previsão de finalização era fevereiro, mas deve se estender até julho.

Segundo o secretário, a prefeitura deverá pagar a conta d erros de projetos, feitos na administração anterior do ex-prefeito Leone Maclel (PMDB), derrotado.nas últimas eleições. Toda a concepção e plantas das obras foram feitas pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), autarquia ligada ao município, e a empreiteira apenas executou o serviço. “Infelizmente, será o município que vai ter que amargar com o prejuízo de um projeto malfeito”, lamentou Nadab.

Assim como o interceptor da Vila Ondina, a nova administração encontrou outros diversos erros em projetos relacionados ao PAC, mas que ainda não saíram do papel. “Antes de iniciarmos, teremos de refazer projetos e submetê-los ao Ministério das Cidades novamente, para não haver mais desperdícios”, revela Geraldo Guaraci.

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