Por Marta Vieira, no Estado de Minas:
Trabalhadores demitidos depois da crise financeira mundial começam a ser recontratados pelos produtores de ferro-gusa (matéria-prima da fabricação de aço) em Sete Lagoas e nas cidades vizinhas, na Região Central de Minas Gerais. Um novo carregamento de 70 mil toneladas foi embarcado para a China há cerca de 20 dias, primeira encomenda de peso atendida pelas empresas desde o início da turbulência na economia em setembro do ano passado. O Sindicato da Indústria do Ferro de Minas Gerais (Sindifer-MG) informou na quarta-feira que foram recontratadas 700 pessoas nas empresas do principal polo guseiro do estado. Duramente sacrificado pela escassez do crédito e a recessão no mercado internacional, o setor abafou fornos e demitiu cerca de 10 mil empregados nos últimos seis meses, trabalhando com 80% de ociosidade.
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Apesar da boa notícia das readmissões, a reação dos negócios é vista com cautela, segundo o presidente do Sindifer-MG, Paulino Cícero de Vasconcellos. “Foi uma reação tópica e não significa tendência sustentável”, afirma. As exportações mineiras de gusa já vinham sofrendo com a queda do dólar antes da crise financeira e praticamente paralisaram em setembro de 2008. Os produtores independentes de ferro-gusa de Minas Gerais trabalharam, em fevereiro, ao ritmo de apenas 15% da produção mensal histórica de 450 mil toneladas. No mês passado, a curva subiu para 23,5%, ou seja, foram produzidas 160 mil toneladas.
A volta da China às compras do gusa de Minas é encarada como uma possibilidade de início de recuperação. Paulino Cícero disse que o gusa embarcado em maio já havia sido encomendado, mas o pedido foi adiado em função da crise. As recontratações surgem num momento crítico para os trabalhadores de Sete Lagoas, onde as empresas chegaram a desligar 37 dos seus 39 fornos e só nas últimas semanas reativaram cinco equipamentos, conforme balanço do sindicato local dos metalúrgicos. De outubro a março passado, 4,2 mil trabalhadores perderam emprego no setor, estima Ernane Geraldo Dias, presidente do sindicato.
“Torcemos por essa recuperação, mas as nossas preocupações não diminuíram, porque há uma grande dificuldade para os trabalhadores”, afirma o sindicalista. O sindicato local dos metalúrgicos obteve informações de 310 recontratações há 15 dias em pelo menos três empresas do setor -Usisete, Siderúrgica Barão de Mauá e Santa Marta Siderurgia (Sama) – e recebeu informações sobre a perspectiva de novos religamentos de fornos em pelo menos duas fábricas: na própria Sama e na unidade do grupo siderúrgico Gerdau. Metade da produção de 4,4 milhões de toneladas do gusa mineiro no ano passado teve o exterior como destino, principalmente os Estados Unidos, Japão, China e Europa.
Na Metalsider, de Betim, na Grande BH, que mantém desligados quatro dos seus sete fornos, o diretor comercial Bruno Melo Lima disse que a expectativa das empresas é quanto à reativação das compras das siderúrgicas americanas. “O mercado começa a voltar muito lentamente. São sinais de melhora depois do fundo do poço”, afirma.
Os trabalhadores do setor de Prudente de Morais, próximo de Sete Lagoas, Matozinhos e Pedro Leopoldo, na Grande BH, estão ansiosos por uma reação. De acordo com o presidente do sindicato dos metalúrgicos, Luiz França de Oliveira, a indústria de autopeças recontratou em Matozinhos. Foram readmitidos 450 trabalhadores numa das unidades da Cabeletra do Brasil, fabricante de chicotes elétricos automotivos.
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