O PT insiste nessa vigarice política que é promover manifestações contra a CPI da Petrobras. Um de seus organizadores é o deputado José Genoino, irmão do chefe daquele da cueca, que decidiu deixar a obscuridade em que havia mergulhado para esposar a causa.
Há duas questões a considerar aí:
1 – tudo indica que a Petrobras não pode ser investigada; o PT deve saber por quê;
2 – a máquina de propaganda petista decidiu agir agora como agiu no mensalão.
Explico: naquele caso, transformaram um rosário de ilegalidades e falcatruas numa peça de resistência: “Conspiração! Golpe!”, gritaram. E a coisa foi bem-sucedida, com a ajuda da oposição, que não soube sair da armadilha. De novo, o mesmo procedimento: danem-se as irregularidades. A “defesa” da empresa virou campanha política, como se alguém quisesse atacá-la.
É o procedimento usual dessa gente, não? Lula, ao defender Sarney, está transformando irregularidades de alcance histórico em ativo político. Seria tudo “denuncismo” da mídia, como o mensalão, o dossiê da Casa Civil e as lambanças na Petrobras.
Lula já é a expressão da nova classe social, tese que lancei precocemente, com acerto óbvio, há alguns anos. Pertence à nova aristocracia brasileira, que é o sindicalismo, com sinais evidentes, inclusive, de fidalguia, hereditariedade e familismo. Mulheres, filhos, irmãos, parentes em geral, de líderes sindicais já iniciam a sua “carreira” no mundo da política ou dos negócios com vantagens evidentes — não é mesmo, Lulinha?
Esta nova aristocracia conseguiu se unir à velha aristocracia — constituída pelos Sarneys da vida durante o Regime Militar, com sobrevida garantida na transição democrática e, claro, nos governos seguintes (Sarney, Collor, Itamar e FHC), para compor o novo quadro social brasileiro da impunidade e da reprodução das desigualdades. E a maior de todas as desigualdades, mãe de todas as outras, é aquela que se estabelece diante da lei.
E é neste ponto que conservadores decentes se distinguem de, vá lá, esquerdistas decentes — sim, existem os bem-intencionados. Se a lei não distingue A e de B e é implacavelmente aplicada, a tendência é que desigualdades oriundas de privilégios desapareçam. Se, no entanto, pensa-se antes em construir a igualdade, ignorando, no processo, o triunfo da própria ordem legal, o que teremos? Exatamente isso que se vê hoje no Brasil:a – a velha ordem se recicla, associada à nova, para garantir os privilégios que tinha antes;b – a nova ordem se associa à velha para garantir o seu lugar de nova beneficiária da impunidade.
Entenderam?
Aquela conversa mole de que esquerdista é mais bacana porque está preocupado com a desigualdade, e direitista não chega a ser um bom sujeito porque não se ocupa dela é uma tolice (que o liberal Norberto Bobbio ajudou a espalhar num livrinho ligeiro e infeliz) ou vigarice intelectual, quando manipulada por aproveitadores e beneficiários dessa nova ordem.
Igualdade diante das leis democraticamente instituídas, seguindo à risca, pois, o estado de direito: eis o caminho que aponta para um horizonte virtuoso. Fora dele, o que se tem são injustiças novas se somando às antigas.
Mas fazer o quê? Temos um ministro de Justiça que confessa não ter cumprido uma ordem judicial porque discordou dela. E o faz com orgulho. Temos faculdades de direito, hoje, Brasil afora, em que estudantes são incitados por professores quase instruídos a desprezar a ordem legal em nome da legitimidade que determinadas causas teriam para grupos de pressão específicos.
O resultado é que o Brasil ficou apenas mais injusto. E vemos, então, congressistas como o tal irmão do chefe do cara da cueca organizar uma manifestação pública contra uma prerrogativa do Congresso a que ele próprio pertence.
Na boa, este textinho saiu melhor do que eu esperava… Peço atenção para a exposição de por que a igualdade perante é a lei é o centro irradiador de uma sociedade decente. Por Reinaldo Azevedo.
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