Há uma possibilidade de que o fato mais importante de 2010 tenha acontecido ontem, na inauguração do Espaço Minas Gerais, um centro de negócios do estado de Minas em São Paulo, localizado na esquina da Paulista com a rua… Minas Gerais!!! Lá vou eu, sendo um pouco óbvio, mas não resistindo à tentação: alguma coisa acontece no coração do PT quando passa por esse cruzamento. E eu acho que tem cheiro de derrota eleitoral. Ricardo Melo, aquele que vê a oposição vivendo dias verdadeiramente aziagos, certamente discorda. Deve pensar que a eventual união dos governadores José Serra (São Paulo) e Aécio Neves (Minas) prova a falta de rumo da oposição, ou alago assim… Mas eu posso asseverar — talvez ele devesse ouvir os repórteres do seu jornal, já que é secretário adjunto de redação, um cargo importante — que esse é, com efeito, um quadro que o PT e Lula sempre temeram. Daí que contassem, desde sempre, com a eventual dissidência de Aécio das hostes tucans.
Os dois governadores se mostraram bastante afinados ontem. Destaco trecho de um discurso de Serra (íntegra aqui):“Até o século 18, nossos dois Estados formavam uma única unidade política, eram um só, e, mesmo depois da separação em dois territórios distintos, essa unidade persistiu, porque não se desfaz com uma penada o que se construiu com muita luta e o que se teceu ao longo do tempo nas malhas do coração. Assim no século 19, com o declínio do ciclo do ouro, o movimento migratório chegou a inverter-se, e os mineiros passaram a povoar, até mesmo a fundar, cidades em território paulista, principalmente nas áreas fronteiras do Estado de origem. Na verdade, o povoamento do Oeste Paulista, que é uma região tão progressista, foi obra desses bandeirantes que voltaram de viagem, na expressão de Antônio Tavares de Almeida.”
Como se nota, Serra já está buscando sinais de que os dois estados estão unidos desde que a história era criancinha. Era tudo o que o Planalto não queria. Ao longo dos últimos anos, Lula tem trabalhado com afinco para opor Minas a São Paulo - na verdade, o esforço petista era para isolar São Paulo do Brasil. Até agora, deu tudo errado.
Serra estava todo parabólico. Leiam isto:
“É significativo, já que eu falei aqui do Tancredo, lembrar a aliança política de São Paulo, naquela época, com Minas Gerais. Do nosso querido governador Franco Montoro e do governador Tancredo Neves. Eu também, por coincidência, estive presente, talvez no primeiro contato político que fizeram com vistas à sucessão no Brasil, lá em Araxá , ainda em 1983. E sou testemunha da importância que esta aliança trouxe para a restauração da democracia no Brasil e abertura de um novo futuro para todos nós.”
Entenderam? Mais claro do que isso, só desenhando. Minas e São Paulo se uniram para pôr fim ao, digamos, antigo regime e, agora, devem se unir de novo para, à sua maneira, encerrar um outro.
Aí vieram os elogios rasgados a Aécio: “Quero lembrar também a importância que Minas Gerais dá, nos últimos anos, através da administração competente, eficiente e de grande qualidade do nosso governador Aécio Neves. Que inovou em muitos aspectos a administração brasileira e abriu um horizonte de otimismo para aquela que é uma das regiões líderes do desenvolvimento brasileiro, e que será cada vez mais nas próximas décadas, porque nós estamos assistindo a um deslocamento do eixo dinâmico da economia brasileira para o Norte de São Paulo, Minas, Goiás, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Espírito Santo.”
E foi além:
“É importante também lembrar que Minas e São Paulo, juntos, constituem uma força apreciável. Basta mencionar que nós temos perto de um terço da população brasileira; que 43% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional é gerado em Minas e São Paulo; e que a União arrecada em Minas e São Paulo 49% dos seus tributos. Isso mostra a importância desse dois Estados, a importância da sua união e a importância de atuarem juntos para conter a volúpia centralizadora federal que hoje prevalece no nosso País.”
Serra não lembrou, mas poderia ter lembrado: São Paulo e Minas têm, juntos, 33,06% do eleitorado brasileiro - um terço! E os dois estados nem estão na região em que os tucanos obtêm o seu melhor desempenho eleitoral, que é a Sul. O PT enfrenta hoje dificuldades no terceiro maior colégio, Rio (10,9%); no quarto, a Bahia (7,2%) , e tem menos chances do que dá a entender no quinto, o Rio Grande do Sul (6,1%).
Uma proximidade tão entusiasmada dos dois governadores evoca, no PT, o temor de uma chapa conjunta, que os próprios petistas não hesitam em classificar de “quase imbatível”. Serra e Aécio se negam a falar sobre tal assunto e preferem dizer que é preciso compor com outros partidos etc. Ora, não precisam dizer nada mesmo. Essa é uma possibilidade que continuará a assombrar o jogo dos adversários.
É claro que a corrida nem começou, mas também é evidente que o Planalto contava, já a esta altura dos preparativos, estar vivendo uma situação eleitoral mais confortável - já que é evidente a produção de boas notícias, aquelas que mesmerizaram o tirocínio do Ricardo Melo. Serra e Aécio, no projeto original, deveriam agora estar se estapeando, e Lula deveria estar livre para dizer a seguinte mensagem: “Ou vota ni mim ou num vota ni mim”. Mas as coisas não vão se dar dessa maneira. O eleitor parece ter descoberto que Lula não é Dilma por mais que Dilma se esforce para ser Lula. O tempo passa, e a ministra vai se revelando uma peça um tanto deslocada do jogo.
Reitero: esse é o retrato de agora. E quando começar a campanha? Pois é… Eu realmente tenho minhas dúvidas se dá para Lula subir no palanque mais do que já sobe hoje. Aparecerá em todos os programas eleitorais de Dilma, como se tutelasse a candidata? Conseguirá realmente convencer o eleitor de que, não fossem ambos, aquele petróleo do pré-sal jamais teria sido encontrado? Conseguirão seqüestrar as obras tocadas pelos governadores nos Estados? Vão satanizar de novo o governo FHC, embora, a esta altura, boa parte dos brasileiros já nem se lembre mais de passado tão remoto? Vamos ver.
Que a união São Paulo-Minas é mais uma péssima notícia para a candidatura Dilma Rousseff, isso é evidente. E, ontem, Serra e Aécio souberam dar o devido peso simbólico a essa aliança. Não custa lembrar que, no cenário mais plausível testado pelo CNT Sensus, Serra lidera no Nordeste com 38,2% das intenções de voto, contra 23,8% de Dilma. Lula já andou ensaiando o discurso de que a sua candidata tem de vencer porque, assim, o governo continuará a realizar seus prodígios… Convenham: tentar colar a pecha de maus gestores a Serra e Aécio, caso estejam realmente unidos, é tarefa bastante difícil.
O dia de ontem, em suma, tem tudo para ser o mais importante da sucessão de 2010. Isso, claro, se Ricardo Melo não estiver coberto de razão, com Antonio Palocci correndo alucinadamente por fora, né?
Ah, sim: uma explícita manifestação de união dos dois governadores mereceu o seguinte título na Folha: “Ao lado de Serra, Aécio rechaça chapa puro-sangue”. Aí fui em busca do, bem…, do rechaço. Leiam: “O tempo é que vai dizer. Minha posição é claramente esta: temos um quadro partidário extremamente plural. É natural que alianças entre partidos se irradiem ou se reflitam na composição de chapa.”
Atenção, leitores! Dia desses, Dona Reinalda chegou com o que eu chamaria plano de médio prazo, envolvendo fim de ano, festividades, início de 2010 etc, e eu rechacei de pronto: “Vamos ver, meu bem, o tempo é que vai dizer”.
Eu, quando rechaço, sou assim: sempre duro, mas sem perder a ternura. TEXTO DE REINALDO AZEVEDO.
Os dois governadores se mostraram bastante afinados ontem. Destaco trecho de um discurso de Serra (íntegra aqui):“Até o século 18, nossos dois Estados formavam uma única unidade política, eram um só, e, mesmo depois da separação em dois territórios distintos, essa unidade persistiu, porque não se desfaz com uma penada o que se construiu com muita luta e o que se teceu ao longo do tempo nas malhas do coração. Assim no século 19, com o declínio do ciclo do ouro, o movimento migratório chegou a inverter-se, e os mineiros passaram a povoar, até mesmo a fundar, cidades em território paulista, principalmente nas áreas fronteiras do Estado de origem. Na verdade, o povoamento do Oeste Paulista, que é uma região tão progressista, foi obra desses bandeirantes que voltaram de viagem, na expressão de Antônio Tavares de Almeida.”
Como se nota, Serra já está buscando sinais de que os dois estados estão unidos desde que a história era criancinha. Era tudo o que o Planalto não queria. Ao longo dos últimos anos, Lula tem trabalhado com afinco para opor Minas a São Paulo - na verdade, o esforço petista era para isolar São Paulo do Brasil. Até agora, deu tudo errado.
Serra estava todo parabólico. Leiam isto:
“É significativo, já que eu falei aqui do Tancredo, lembrar a aliança política de São Paulo, naquela época, com Minas Gerais. Do nosso querido governador Franco Montoro e do governador Tancredo Neves. Eu também, por coincidência, estive presente, talvez no primeiro contato político que fizeram com vistas à sucessão no Brasil, lá em Araxá , ainda em 1983. E sou testemunha da importância que esta aliança trouxe para a restauração da democracia no Brasil e abertura de um novo futuro para todos nós.”
Entenderam? Mais claro do que isso, só desenhando. Minas e São Paulo se uniram para pôr fim ao, digamos, antigo regime e, agora, devem se unir de novo para, à sua maneira, encerrar um outro.
Aí vieram os elogios rasgados a Aécio: “Quero lembrar também a importância que Minas Gerais dá, nos últimos anos, através da administração competente, eficiente e de grande qualidade do nosso governador Aécio Neves. Que inovou em muitos aspectos a administração brasileira e abriu um horizonte de otimismo para aquela que é uma das regiões líderes do desenvolvimento brasileiro, e que será cada vez mais nas próximas décadas, porque nós estamos assistindo a um deslocamento do eixo dinâmico da economia brasileira para o Norte de São Paulo, Minas, Goiás, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Espírito Santo.”
E foi além:
“É importante também lembrar que Minas e São Paulo, juntos, constituem uma força apreciável. Basta mencionar que nós temos perto de um terço da população brasileira; que 43% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional é gerado em Minas e São Paulo; e que a União arrecada em Minas e São Paulo 49% dos seus tributos. Isso mostra a importância desse dois Estados, a importância da sua união e a importância de atuarem juntos para conter a volúpia centralizadora federal que hoje prevalece no nosso País.”
Serra não lembrou, mas poderia ter lembrado: São Paulo e Minas têm, juntos, 33,06% do eleitorado brasileiro - um terço! E os dois estados nem estão na região em que os tucanos obtêm o seu melhor desempenho eleitoral, que é a Sul. O PT enfrenta hoje dificuldades no terceiro maior colégio, Rio (10,9%); no quarto, a Bahia (7,2%) , e tem menos chances do que dá a entender no quinto, o Rio Grande do Sul (6,1%).
Uma proximidade tão entusiasmada dos dois governadores evoca, no PT, o temor de uma chapa conjunta, que os próprios petistas não hesitam em classificar de “quase imbatível”. Serra e Aécio se negam a falar sobre tal assunto e preferem dizer que é preciso compor com outros partidos etc. Ora, não precisam dizer nada mesmo. Essa é uma possibilidade que continuará a assombrar o jogo dos adversários.
É claro que a corrida nem começou, mas também é evidente que o Planalto contava, já a esta altura dos preparativos, estar vivendo uma situação eleitoral mais confortável - já que é evidente a produção de boas notícias, aquelas que mesmerizaram o tirocínio do Ricardo Melo. Serra e Aécio, no projeto original, deveriam agora estar se estapeando, e Lula deveria estar livre para dizer a seguinte mensagem: “Ou vota ni mim ou num vota ni mim”. Mas as coisas não vão se dar dessa maneira. O eleitor parece ter descoberto que Lula não é Dilma por mais que Dilma se esforce para ser Lula. O tempo passa, e a ministra vai se revelando uma peça um tanto deslocada do jogo.
Reitero: esse é o retrato de agora. E quando começar a campanha? Pois é… Eu realmente tenho minhas dúvidas se dá para Lula subir no palanque mais do que já sobe hoje. Aparecerá em todos os programas eleitorais de Dilma, como se tutelasse a candidata? Conseguirá realmente convencer o eleitor de que, não fossem ambos, aquele petróleo do pré-sal jamais teria sido encontrado? Conseguirão seqüestrar as obras tocadas pelos governadores nos Estados? Vão satanizar de novo o governo FHC, embora, a esta altura, boa parte dos brasileiros já nem se lembre mais de passado tão remoto? Vamos ver.
Que a união São Paulo-Minas é mais uma péssima notícia para a candidatura Dilma Rousseff, isso é evidente. E, ontem, Serra e Aécio souberam dar o devido peso simbólico a essa aliança. Não custa lembrar que, no cenário mais plausível testado pelo CNT Sensus, Serra lidera no Nordeste com 38,2% das intenções de voto, contra 23,8% de Dilma. Lula já andou ensaiando o discurso de que a sua candidata tem de vencer porque, assim, o governo continuará a realizar seus prodígios… Convenham: tentar colar a pecha de maus gestores a Serra e Aécio, caso estejam realmente unidos, é tarefa bastante difícil.
O dia de ontem, em suma, tem tudo para ser o mais importante da sucessão de 2010. Isso, claro, se Ricardo Melo não estiver coberto de razão, com Antonio Palocci correndo alucinadamente por fora, né?
Ah, sim: uma explícita manifestação de união dos dois governadores mereceu o seguinte título na Folha: “Ao lado de Serra, Aécio rechaça chapa puro-sangue”. Aí fui em busca do, bem…, do rechaço. Leiam: “O tempo é que vai dizer. Minha posição é claramente esta: temos um quadro partidário extremamente plural. É natural que alianças entre partidos se irradiem ou se reflitam na composição de chapa.”
Atenção, leitores! Dia desses, Dona Reinalda chegou com o que eu chamaria plano de médio prazo, envolvendo fim de ano, festividades, início de 2010 etc, e eu rechacei de pronto: “Vamos ver, meu bem, o tempo é que vai dizer”.
Eu, quando rechaço, sou assim: sempre duro, mas sem perder a ternura. TEXTO DE REINALDO AZEVEDO.
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