Por Christiane Samarco, Estadão:
O governador de São Paulo, José Serra, espera apenas o desembarque do colega mineiro Aécio Neves, que retorna hoje de férias no exterior, para marcar a visita que pretende lhe fazer ainda esta semana. Além de selar as costuras políticas no segundo maior colégio eleitoral do País, o encontro dos dois é tático. Serra quer mostrar que fará gestos cada vez mais firmes para não deixar dúvida de que é o candidato do PSDB à Presidência, mesmo sem assumir a candidatura.
Independentemente da movimentação de Serra e do anúncio oficial, que setores do partido apostam que se dará em meados de março, "no máximo", as várias alas do PSDB concordam em um ponto: o inferno astral do candidato tucano se arrastará maio adentro. Isso porque, até lá, a "superexposição" da candidata petista e ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, será acentuada pelos programas partidários do PT e dos partidos aliados do Planalto, em rede nacional de rádio e televisão. É diante desse quadro que serristas do grupo mais próximo ao governador, como o deputado Jutahy Júnior (BA), sustentam a tese de que apressar o lançamento de Serra é inútil.
"Antecipar a campanha é só ampliar o período de travessia do deserto", diz Jutahy, convencido de que o tucano amargará desvantagem durante toda essa fase em que a disputa se dá entre uma ministra que viaja o País inteiro ao lado de um presidente popular e um governador de Estado. O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), concorda que o jogo só começará a ficar equilibrado quando o enfrentamento for entre dois candidatos.
"O que a gente precisa, até lá, é ter nervos de aço. E temos de nos mexer muito no Congresso e nos Estados, com uma forte atuação parlamentar e muita articulação", sugere o senador, animado com os resultados da última pesquisa Ibope. O levantamento divulgado semana passada colocou o tucano 11 pontos porcentuais à frente da petista, no cenário em que Ciro Gomes (PSB) e Marina Silva (PV) também são candidatos. Apontou, também para uma vitória do PSDB em segundo turno, com o placar de 47% a 33% sobre Dilma. "Os números são bons. Confirmam uma situação real, que não é brilhante, mas é segura", analisa Guerra.
"COMERCIAIS"
O PT, assim como o PSDB, tem o programa de 10 minutos do horário partidário a ser exibido em rede nacional de rádio e TV, além de quatro dias de comerciais a ser veiculados até junho. A lei prevê dez inserções de 30 segundos em cada dia. Um comercial os petistas já usaram, para comemorar os 30 anos de fundação do partido. Restam, portanto, três inserções marcadas para 6, 8 e 11 de maio.
Com esse calendário, os tucanos mais otimistas buscam consolo na aposta de que, até lá, Dilma não deve crescer nas pesquisas. Acreditam que quem vai ganhar fôlego agora é Ciro, que apresentou sua candidatura no programa do PSB de quinta-feira passada e ainda terá inserções até o início de março. No ano passado, Ciro ganhou entre 6 e 8 pontos porcentuais nas pesquisas, por conta do programa e dos comerciais.
O tucanato aposta ainda que a propaganda do DEM, entre 18 e 25 de maio, vai "demolir a Dilma" e destacar Serra. Em seguida, na primeira quinzena de junho, o PPS exibirá seu programa, com elogios ao governo de São Paulo, do qual participa. A última etapa da propaganda partidária virá em junho, com o PSDB encerrando a temporada no dia 29. "A exposição final é do Serra", comemora o dirigente do PSDB responsável pela programação perante a Justiça Eleitoral.
Para ter mais conforto na "travessia do deserto", Serra quer investir especialmente em São Paulo, considerado o "motor" da campanha presidencial. O tucanato reconhece que as chuvas ainda atrapalham muito, prejudicando não só a agenda de inaugurações como as intenções de voto na corrida sucessória. Ainda assim, o cronograma de entrega das obras de maior visibilidade, como o Rodoanel, está mantido para março. A programação inclui também duas estações intermediárias da linha 4 do metrô, nas Avenidas Paulista e Faria Lima.
Haverá ainda entregas semanais de novas estações de tratamento de esgoto e escolas técnicas, além de uma nova faculdade de tecnologia a cada mês. E estradas vicinais São Paulo afora. "Se Serra tivesse assumido a candidatura, seria multado, questionado, e não poderia mais inaugurar obras no Estado, porque diriam que é palanque público", insiste Jutahy, em defesa da tese de que o anúncio oficial da candidatura se tornou "secundário".
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