segunda-feira, 12 de abril de 2010

ENTREVISTA DE AÉCIO NO ESTADÃO

Por Christiane Samarco, do Estadão:
Ex-governador de Minas Gerais que deixou o cargo com popularidade recorde, Aécio Neves perdeu para o paulista José Serra o posto de pré-candidato do PSDB a presidente, mas não cultiva mágoa ou despeito. Certo de que a presidenciável petista Dilma Rousseff “é uma grande incógnita”, Ele quer começar a campanha de Serra por Minas Gerais, como pré-candidato ao Senado e sem falar em vice. Os dois vão se reunir neste início de semana para marcar a data. Aécio vai propor dia 19.

“Condicionei meu descanso primeiro ao lançamento da candidatura no dia 10, e agora por mais nove dias”, conta Aécio, que só sairá em férias depois de pedir voto aos mineiros. “Acho que a ida a Minas, no início de sua caminhada, tem o simbolismo de demonstrar a proximidade pessoal nossa, e de Minas e São Paulo, nesta eleição”, avalia. Ao mesmo tempo, porém, o tucano adverte que não promete vitória a Serra. “Prometo o empenho. Ninguém induz o voto do eleitor, que é livre para fazer suas escolhas”, diz Aécio, em entrevista ao Estado. “Vou tentar demonstrar que, para Minas e para o Brasil, a eleição de Serra é muito melhor.”

O que o senhor achou do discurso de lançamento de José Serra?
Foi um discurso conceitual. Ele precisava abordar vários temas, fez críticas objetivas à ação do governo - jamais pessoais, o que achei muito positivo. Eu procurei falar antes dele, para superar constrangimentos de setores do PSDB que se atemorizam com a proposta do debate FHC x Lula.

Há razão para temer comparação?
Ao contrário. Vamos para o embate. O PT comete o equívoco de restringir sua existência aos oito anos de governo Lula. Vamos reconstruir as nossas trajetórias e ver quem contribuiu mais para que chegássemos aonde estamos hoje. Não tenho dúvida de que nós do PSDB sempre tivemos muito mais generosidade para com o País do que o PT. Busquei despersonalizar a disputa, refazer o passado. A partir daí vamos discutir o presente.

Seu discurso de oposição, no lançamento, foi em tom acima do habitual.
Oposição ao PT, porque acho importante que o Brasil saiba qual é e qual foi a postura do PT nos momentos mais graves até aqui. O que me incomoda é ver o PT tentando vender aos brasileiros a ideia de que o Brasil das virtudes e do desenvolvimento foi construído por eles, quando, em vários momentos cruciais, eles preferiram priorizar o projeto partidário ao nacional. Negaram voto a Tancredo, apoio a Itamar Franco, porque Lula já aparecia em posição boa nas pesquisas para presidente, e na construção da estabilidade, no governo FHC.
(…)
O ciclo do PT não foi positivo?
Reconheço virtudes no presidente Lula, mas acho que o PSDB está muito mais preparado hoje para acabar com esse aparelhamento absurdo da máquina pública. E a ministra Dilma, com os méritos que tem, terá que entrar no debate de forma muito clara sobre o espaço desse PT ideológico, estatizante, que aparelha o Estado em razão da filiação partidária, o coloca a serviço de seus interesse, e muitas vezes insinua ações de restrição à liberdade de imprensa e às conquistas democráticas.

E o debate Serra x Dilma?
Esse é bom para nós também porque os nossos modelos de gestão vão estar em debate. Vamos demonstrar que a meritocracia é o antídoto ao messianismo, porque ela te permite dados objetivos de avaliação dos resultados na vida das pessoas. Os que apostam no messianismo, nos discursos e na autoproclamação da própria bondade temem essa comparação. Vamos contrapor esses dois modelos e acho que temos grandes vantagens. Lula será sempre reconhecido pelo Brasil como um presidente extremamente importante em um momento da nossa história. A perpetuação do PT no poder não é boa para o País.

Que vantagem tem o PSDB no embate de perfis Serra x Dilma?
São duas pessoas dignas, com histórias de vida respeitáveis e nós temos que partir deste pressuposto. O Serra resgata a eficiência na gestão pública como instrumento dos avanços sociais e representa uma política externa muito mais afim aos interesses do Brasil, inclusive os comerciais e pragmáticos, e não uma aliança meramente ideológica. Não há hipótese de interromper programas que estão dando certo, mas podemos aprimorá-los.

E a ministra Dilma?
O grande senão que se coloca em relação a ela - e aí é um preço que ela paga exatamente por não ter tido a experiência de comando no Executivo, nem mandato eletivo - é qual será a presença desses setores ideológicos do PT e dos aloprados no seu eventual futuro governo. Ela terá que dizer aos brasileiros exatamente o que pensa de modelo de Estado, das instituições democráticas, da liberdade de imprensa, do aparelhamento do Estado e desse inchaço da máquina pública. Leia mais no Estadão aqui

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