Definitivamente Sete Lagoas não assume o tamanho que tem e os problemas do tamanho que são. A fala da dirigente do Hospital Nossa Senhora das Graças na quarta-feira passada em audiência pública na Câmara é escandalosa e eloquente da visão medíocre que tem boa parte da elite dirigente da cidade. Não é só o prefeito que pensa miúdo não, tem um grande número de pessoas iguaizinhas a ele em posição de comando na cidade que vê a coisa do mesmo jeito. É a evidência de uma cultura que assola Sete Lagoas e impede, pela mediocridade, a cidade de avançar. Na fala em questão a senhora Maria Ribeiro diz com todas as palavras que o problema "É DESSE MUNDO DE GENTE PRECISANDO OPERAR CATARATA."
Quem sabe a solução é acabar com esse "mundo de gente". Ora, ora, ora isso beira a discriminação explicita, a xenofobia e, pasmem, vem de alguém que está a frente da uma entidade filantrópica. É um dever de todo cidadão sete-lagoano ouvir a sua breve, mas reveladora fala para ter a dimensão da visão medíocre da elite no poder em Sete Lagoas. Transcrevo-as suas palavras a abaixo, mas peço a todos que assistam (o vídeo é 1,54 minuto) e ouçam o que ela diz para sentir o que pensa. Mais: vocês vão ver também o momento em que ela se irrita, tira o microfone da direção da boca e soca o ar próximo ao colo com ele.
Assistiram? Pois é, esta senhora mesmo dizendo que "nunca foi feita uma cirurgia de catarata pelo SUS nessa cidade" põem a culpa nesse "mundo de gente precisando operar de catarata". Isso é a clara evidência de uma cultura que permeia a elite da cidade, que sempre coloca a culpa da falta de oferta de serviços públicos nos demandantes de serviços públicos (população): a população e não enfretam o problema porque não querem assumir a dimensão que tem a cidade tem hoje. Isso é saudosimo retrogrado e acomodador. Quando falta água o responsável é o povo, quando falta saúde também e assim por diante. Enquanto tiverem no comando pessoas que responsabilizam a numerosa população pela falta de bens e serviços, teremos uma cidade deficitária e cada vez pior.
Mas a fala dessa senhora da outras indicações interessantíssimas. Leiam o que ela diz intercalado por intervenções minhas em azul:
Se a secretaria municipal de Saúde ela não consegue a consulta pré-operatória e os exames pré-operatórios pela tabela SUS, é mais difíl pra gente como irmandande, como prestador do serviço. O hospital se vê apenas como um "prestador de serviço"? Onde esta o seu caráter filantropico?
Então a agenda cirúrgica eu posso oferecer ela aqui agora vocês. Eu pergunto se a secretaria tem condição de me entregar o paciente pronto pra preparar? Porque está sendo colocado como um problema nosso, mas esse não é o problema da irmandade, a irmandade só entrou aí como facilitadora. Se a secretaria municipal de saúde nos entregar o paciente pronto para operar semana que vem nós começamos a operar. Eu sei que a secretaria não tem os pacientes, e eu estou trabalhando para ajudar a secretária a resolver esse problema, que não é da secretaria, que não é do hospital.
Se a senhora Maria Ribeiro sabe que "a secretaria não tem os pacientes [prontos]" por que então a frase-pergunta: "Eu pergunto se a secretaria tem condição de me entregar o paciente pronto pra preparar?" Qual é facilitação que está havendo por parte da "irmandade", para dizer que "a irmandade só entrou aí como facilitadora"?
É DESSE MUNDO DE GENTE PRECISANDO OPERAR CATARATA, PORQUE NUNCA FOI FEITA UMA CIRURGIA DE CATARATA PELO SUS NESSA CIDADE." Tá sendo feito agora porque eu tenho voltado a gastar muita energia pra conseguir isso (momento em que ela se irrita, tira o microfone da direção da boca e soca o ar próximo ao colo com ele) Eu não acho justo essa colocação, então gostaria que fosse assim publicamente dito: SE A SECRETARIA TEM CONDIÇÕES DE ME ENTREGAR O PACIENTE PRONTO, NÓS COMEÇAMOS A OPERAR JÁ, SE NÃO A PARCERIA DA SECRETARIA COM O HOSPITAL VAI TER ALGUM PROBLEMA.
Bem, como a doutora mesmo afirma acima que sabe que a secretaria não tem os pacientes prontos ela esta dizendo com essa ameaça explicita que a "parceria" da secretaria com o hospital vai ter problema. Qual é esse problema, ela poderia contar para toda a sociedade que ajuda manter essa entidade, não é mesmo? Que parceiro é esse que quer tudo pronto e não coopera? Ora, ora, ora isso não é parceiro, parece muito mais um oportunista que vendo o "parceiro" em dificuldade aproveita-se da situação para arrancar-lhe alguma coisa mais. Isso é a postura de um aliado filatrópico ou capitalista selvagem e um mercenário? Tire as suas próprias conclusões. Ah, sim: vocês notaram o tanto de "eu", "eu", "eu"...
Um comentário:
DONA MARIA NAO SE PREOCUPE COM A CATARATA FAÇA MELHOR ATENDA MELHOR OS USUARIOS DO SUS DE A ELES PELOMENOS UM POUCO DE DIGINIDADE DENTRO DESTA INSTITUIÇÃO PELOMENOS TENHA LEITOS PRA ELES E NAO INVENTE MAIS MODA.
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