domingo, 18 de julho de 2010

ENTREVISTA DE ANTÔNIO ANASTASIA AO JORNAL O TEMPO

Por Carla Kreefft, no O Tempo:
Na disputa pelos votos dos mineiros, o tucano, que já exerce o governo desde abril deste ano, mostra como pretende convencer o eleitorado de que é capaz de dar continuidade ao trabalho feito por Aécio Neves e, ainda, promover avanços em setores fundamentais.

O Tempo - Quais são as impressões do senhor sobre esse início de campanha?
Anastasia - O que nós temos por enquanto é um início de campanha, digamos, um pouco tímido, tanto do meu lado quanto dos outros, porque ainda não há o material de campanha, que é o que empolga. Mas nós estamos muito otimistas. A campanha começa agora, mas ela teve uma fase de pré-campanha, que foi uma fase de articulação e de costuras políticas, que nos deu um tempo de televisão muito expressivo, um grande número de candidatos a deputados estadual e federal, uma estrutura de muitos prefeitos. A receptividade ao nosso nome e a nossa proposta tem sido muito boa. Porque a nossa candidatura não é uma candidatura isolada, da minha vontade pessoal. Ela resulta numa conjunção de forças e representa um projeto. Um projeto não só político, mas de visão de Estado, de visão de desenvolvimento, de visão de progresso, que tem como liderança política o (ex)governador Aécio Neves. Portanto, a minha candidatura representa essas forças políticas, que é um movimento de continuidade, mas também de consolidação daquilo que foi feito e de avanços. Porque eu reconheço que Minas avançou muito nesses oito anos, mas que nem tudo foi feito, então ainda há muito a fazer. Então nossa proposta - e nós somos humildes para assumir que nós avançamos, mas que ainda há muito o que fazer - é avançar. E para avançar mais, o que nós fazemos? Nossas propostas, nosso conhecimento.

O Tempo - Cite uma prioridade para a educação e segurança pública.
Anastasia - Minas Gerais tem a melhor educação pública do Brasil, conforme o Ministério da Educação. Mas nós temos que avançar muito mais. Temos que tornar a nossa escola mais inclusiva. A nossa proposta é que a nossa escola estadual tenha um projeto de educação mais alargado, como protagonista das ações na sua região. As ações sociais, ações de fomento econômico vão acontecer muito dentro das escolas. E é claro que, para isso, nós vamos ter que continuar investindo nos professores. O Poupança Jovem é exemplo de como a escola pode ter um papel mais ativo. Na segurança pública, nós avançamos muito em termos de integração das duas polícias. Os resultados são muito positivos. Qual deve ser o nosso objetivo? Levar o cidadão a uma sensação subjetiva de segurança pública, que é o mais difícil. Claro que é muito difícil reduzir os índices de criminalidade, de homicídios, os crimes violentos, mas mais difícil ainda é fazer com que a pessoa tenha a sensação subjetiva de segurança. E isso só se dá na segurança que ela tenha na polícia e na Justiça, ou seja, o fim da impunidade. Então, esse vai ser o nosso grande esforço, mas para isso eu tenho que ter uma boa polícia, uma boa corregedoria.

O Tempo - E na saúde e infraestrutura?
Anastasia - Na saúde, o que nós precisamos agora é fazer uma grande rede de hospitais regionais. Nós temos um programa que se chama Pró-Hosp, que foi o financiamento dos hospitais do interior já existentes que estavam praticamente falidos. Nós fizemos investimentos e passamos recursos para custeio para evitar que os doentes tivessem que ser transferidos para Belo Horizonte. Mas, ainda há uma grande carência de atendimento especializado no interior, estamos concluindo os hospitais de Uberlândia, Divinópolis, Sete Lagoas, Juiz de Fora. Então, nós vamos ter uma grande rede integrada de hospitais no interior. Porque hospital é caro para construir e manter, mas é fundamental. Para a infraestrutura, o grande programa é o projeto Caminhos de Minas, que eu levei agora ao Banco Mundial. Nós recebemos uma atenção muito positiva, devido a nossa credibilidade, para que haja o financiamento do projeto em R$ 6 milhões. Então, ninguém quer retroagir e essa é a ideia da nossa campanha.

O Tempo- O senhor tem esse perfil mais técnico. Isso pode ser uma dificuldade?
Anastasia - Eu acho um pouco artificial essa diferenciação entre técnico e político. Eu ocupo cargos políticos há mais de vinte anos. Na história recente de Minas, nós tivemos casos de pessoas que se tornaram candidatos recentemente e que tiveram bom desempenho. Por outro lado, poderia haver um tipo de dificuldade se eu tivesse uma certa timidez ou uma certa dificuldade na relação com as pessoas, o que não existe. Até pela minha função de professor, estou acostumado a falar em público, a debater. Então isso não me embaraça, pelo contrário, só me estimula e eu gosto muito. E as pessoas não vão distinguir quem tem origem política ou técnica. Tem que ver é se a pessoa é competente e honesta. Os eleitores se cansaram também daqueles valores antigos do político que só sabe prometer.

O Tempo - Cientistas políticos dizem que o senhor estaria para o ex-governador Aécio Neves como a candidata Dilma Rousseff está para o presidente Lula...
Anastasia - Acho que nesse caso são duas situações distintas. Os perfis políticos, em um primeiro momento, podem se parecer, mas eu acho que nós temos muitas diferenças de princípios, de visões do mundo e da administração. O que aproxima um pouco é uma a certa visão de continuidade. Isso é o que pode levar a alguns essa ideia de continuidade nos dois níveis, federal e estadual. Então muitas vezes esse embaralhamento ocorre e é agravado por um fato objetivo: um quadro partidário com o campo nacional e o campo estadual superpostos. Na nossa coligação estadual, nós temos partidos que apoiam a campanha da Dilma (Rousseff). Então, isso pode nos causar um pouco dessa sensação. Mas claro que o nosso esforço será pela candidatura de José Serra.

O Tempo - E o papel do ex-governador Aécio Neves na campanha?
Anastasia - O papel dele é fundamental e imprescindível, porque ele é a liderança. Mas, é importante também que as pessoas vejam em mim as minhas próprias qualidades. Eu sou o candidato e tenho o papel de convencer as pessoas dos meus atributos. Mas, a participação dele (Aécio) na campanha é fundamental. É ele quem vai me apresentar ao eleitor porque há um desconhecimento da minha candidatura.

O Tempo - O senhor acredita que vai ter dificuldade com o funcionalismo?
Anastasia - Eu sou servidor público de carreira. E eu acho que não há ninguém melhor do que o servidor para notar o que havia antes do nosso governo e o que existe agora de avanço, de ordem, de pagamentos regulares. Resolveu cem por cento? Não, mas avançamos.

O Tempo - Está difícil conciliar o cago de governador e de candidato?
Anastasia - Primeiro, eu acho que eu tenho uma capacidade de trabalho grande, que é conhecida. Eu acho também que nesse período eleitoral já se diminui as atividades do governo. Então eu acho que é perfeitamente conciliável. Parece que teremos uma campanha com dois motes. O choque de gestão do lado da candidatura do senhor e do outro lado, os programas sociais... O choque de gestão é e foi fundamental para arrumar a casa e para possibilitar a questão dos investimentos, mas agora a nossa responsabilidade é dar um passo adiante. A gestão não é para uma finalidade de si mesma, ela é o pressuposto para nós conseguirmos arrumar a casa e investir em educação, segurança, saúde, assistência social.

O Tempo - Há uma expectativa de que o vice da outra chapa possa trazer uma contribuição muito grande ao candidato. E o vice do senhor?
Anastasia - A contribuição dele vai ser maior ainda, porque o Alberto Pinto Coelho tem uma densidade eleitoral imensa, foi votado como deputado em mais de 700 municípios mineiros. Ele tem uma densidade política única porque tem uma liderança em relação aos seus colegas na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Inclusive o nome dele surgiu de maneira interpartidária na própria Assembleia. Foram os deputados estaduais que levaram o nome dele. E nós, certamente, sabemos a importância dos deputados. (Carla Kreefft)

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