Ulalá! José Eduardo Dutra, presidente do PT, em entrevista à Folha, repete a crítica feita aos meios de comunicação que estavam no primeiro programa entregue ao TSE — aquele supostamente enviado por engano e que foi substituído… sete horas depois! Aliás, na segunda versão, o rancor ao jornalismo independente persiste. Entendo: aquela estrovenga tinha três rubricas: não sei a quem pertencia a terceira; a primeira e a segunda eram, respectivamente, de Dilma Rousseff e de… Dutra! Ele expressou seu inconformismo com VEJA. Eu não disse que aquele trechinho da minha entrevista a Jô Soares estava relacionada também a este post? Naquela mesma entrevista ao Jô, na segunda parte (há link ali, no proóprio vídeo), digo qual é uma das funções da imprensa: vigiar o governo. Está nos primeiros dois minutos.
Leiam trecho do texto da Folha. Volto em seguida:
O presidente do PT, José Eduardo Dutra, defendeu na noite de anteontem o ponto do programa de governo de Dilma Rousseff que afirma que as cadeias de rádio e TV, em geral, são “pouco afeitas” à qualidade, ao pluralismo e ao debate democrático.
“É uma constatação”, disse Dutra, coordenador da campanha de Dilma. Questionado a quais órgãos se referia, ele não citou TVs ou rádios, mas sim a revista “Veja”, da Editora Abril.
“Isso [a crítica à mídia] não se refere a programa de governo, é uma constatação. Estamos vendo isso. Basta analisar se a postura de alguns órgãos de imprensa tem sido plural. Minha avaliação é de que não tem sido”, afirmou após o jantar em que Dilma se reuniu com mais de 200 deputados e senadores no Lago Sul de Brasília.
“Por exemplo, a revista “Veja”. Minha visão é a de que eles não têm sido plurais”, disse. Dutra negou que a avaliação embasará alguma ação de Dilma, caso eleita.
“O que vamos fazer, vamos censurar? Claro que não, mas tenho também a liberdade de poder expressar a minha opinião. O fato é que a liberdade de imprensa é irrevogável, ponto.”Comento“Irrevogável”? É um adjetivo ruim para ser usado por petistas. Na boca deles, como na novilíngua de George Orwell, “irrevogável” pode querer dizer o contrário — não é Mercadante? De todo modo, cumpre observar: é irrevogável, sim. Mas não porque o PT seja generoso conosco. Assim é porque assim quer a sociedade.
Não tenho procuração para falar em nome da VEJA. Se a revista não quis se manifestar, respeito sua decisão. Como, volta e meia, refiro-me a outros veículos aqui, não tenho por que ignorar esse caso. Quem avalia a “pluralidade” e a “qualidade” da revista são seus milhões de leitores, não o PT. Se dependesse do partido, VEJA e muitos outros veículos já estariam fechados. Mas não depende.
A gente sabe bem de quem eles gostam. Que tal aquela cartilha sem leitores, sustentada pela propaganda ofical? Ou aquele blogueiro alugado pelo anúncio de uma estatal? Ou aquele outro que está na folha de pagamentos de Franklin Martins? E essa gente que vem falar de imprensa independente? De imprensa plural?
Dutra está inconformado porque a VEJA desta semana traz uma vigorosa capa em defesa da liberdade de expressão, apontando justamente a existência de dinossauros esquerdopatas que ambicionam controlar a imprensa. Seria ridículo provar que ele mente, que a revista não pratica oposicionismo sistemático. Mas uma lembrança eu tenho de fazer: VEJA, com a habitual coragem de dizer o que pensa, apoiou a política econômica de Palocci — o que foi um bem para o país — quando os amigos petistas de Dutra queriam derrubar o então ministro, que, note-se, caiu por seus defeitos — os petistas, em seu mundo às avessas, queriam derrubá-lo por suas qualidades. Refiro-me a um tempo em que eu não tinha qualquer vínculo com VEJA. Era apenas seu leitor. E continuou a aplaudir os acertos do governo e a criticar os seus erros.
O problema dos petistas é que eles são viciados no aulicismo, na cortesania. Ao conviver com pessoas que sempre têm um preço, ficam chocados e tomam como ofensa pessoal a descoberta de que nem todos se comportam com essa moral anã. Se ele tem algo a dizer à VEJA, por que não se dirige à revista ou a algum de seus repórteres? Ao fazê-lo por intermédio de outros veículos, opta pela tática da intimidação — prática compatível com um partido que fabrica dossiês a partir de dados fiscais obtidos criminosamente.
Dutra não é crítico qualificado de VEJA — ou de qualquer outro veículo — a ponto de provocar a mudança de rumo da revista. Sua fala não a tornará “mais governista”, com medo, ou “mais oposicionista”, com rancor. Dará continuará, aposto, a seu trabalho de sempre, pautada pelo jornalismo honrado, que não depende da boa vontade do rei.
De todo modo, fica evidente, mais uma vez — quando os desmascarei com a história da rubrica, isso já estava claro —, que o envio do programa “rubriquei, mas não traguei” nada teve de engano, equívoco ou trapalhada. O PT mandou ao TSE o que realmente pensava, conforme atesta seu presidente. A defesa da liberdade de imprensa que Dilma passou a fazer depois é parte da pantomima habitual do partido. Na semana retrasada, ela afirmou, num dia, que era contra as invasões do MST; no dia seguinte, discursou com o boné do movimento na cabeça.
Reproduzo, em homenagem a Dutra, um trecho da Carta ao Leitor da VEJA desta semana:
Ninguém pode cobrar do PT que entenda o papel da imprensa nas democracias, como não se pode cobrar de um índio do Xingu que formule a Segunda Lei da Termodinâmica. Mas nenhum programa de governo, petista ou não, pode se arvorar em juiz da imprensa ou quaisquer outras atividades que, por serem conquistas civilizatórias, não pertencem ao universo oficial. A imprensa não tem lições a receber de quem não compreende esse valor universal da democracia - à esquerda ou à direita.
Para justificar a supressão de jornais livres, Para justificar a supressão de jornais livres, o ditador comunista Vladimir Lênin disse que “nosso governo não aceitaria uma oposição de armas letais. Mas idéias são mais letais que armas”. Na mesma linha, o ditador fascista Benito Mussolini afirmava que “os franceses eram decadentes por culpa da sífilis, do absinto e da liberdade de imprensa”. Que o PT não perca de vista que ambos, e suas respectivas ideologias, foram varridos da história - enquanto a imprensa livre sobreviveu aos totalitarismos que ajudou a combater.
Encerro com uma ilustração
Por Reinaldo Azevedo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário