Por Eduardo Kattah, de O Estado de S. Paulo:
BELO HORIZONTE - Sucessor no governo de Minas e fiel escudeiro do senador eleito Aécio Neves (PSDB), Antonio Anastasia (PSDB) engrossa o coro do aliado pela necessidade de refundação da legenda tucana. Ele critica a "luta intestina" na principal sigla de oposição, argumentando que o PSDB é um partido nacional e "não tem dono". O governador deixa claro que os mineiros têm "natural ansiedade, anseio e vontade" de ver Aécio no Palácio do Planalto. Para isso, diz que quem quer ser presidente não deve escolher adversário, numa resposta à declaração do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que provocou a oposição ao afirmar que em caso de dificuldades da presidente Dilma Rousseff em 2014, o governo tem um "Pelé na reserva" - numa referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista ao Estado, concedida no seu amplo e decorado gabinete, no 4º andar do Palácio Tiradentes, o governador também falou da expectativa em relação ao governo Dilma, reiterando cobrança por uma reforma tributária. Anastasia disse que espera uma relação de proximidade com o colega paulista Geraldo Alckmin (PSDB), com quem se encontra nesta sexta, 14, em São Paulo. O governador mineiro admite, se o assunto vier à tona, discutir com Alckmin a disposição já externada pela Cemig de adquirir a Cesp.
Qual a sua posição e expectativa sobre o governo da presidente Dilma Rousseff?
Acredito que ela tem condições de fazer um bom governo. Teremos com ela um relacionamento administrativo sereno, tranquilo, harmonioso, de muito respeito. Tenho certeza de que ela terá o mesmo com seu estado, que é Minas Gerais. O fato de sermos governadores de oposição - e somos dez - certamente não vai trazer nenhuma diferença nesse relacionamento. O governo Lula teve grandes avanços em diversas áreas e em algumas áreas eu sempre achei que poderia avançar mais, na questão da questão da eficiência e da profissionalização da gestão pública é uma delas. Eu fico satisfeito em saber que o doutor Jorge Gerdau foi chamado para participar do Ministério da Saúde com um projeto de modernização da gestão. Falta ao governo federal isso. Espero que ela toque em algumas feridas que ficaram em aberto no governo passado, como a questão que nos interessa primeiramente aos governadores: a reforma tributária.
É possível já notar alguma diferença entre o governo Dilma e o governo do ex-presidente Lula.
Acho que é muito cedo ainda, são poucos dias.
Falando de questões recentes do governo federal. Como viu a decisão do ex-presidente Lula de negar a extradição de Cesare Battisti para a Itália?
Confesso que não estudei o processo e até como profissional do direito tenho de ter certa cautela. Pelo que li pela imprensa, o presidente tomou a decisão baseado em parecer da Advocacia-Geral da União. Sendo uma decisão que tem um cunho jurídico, pode ser revista pelo Supremo Tribunal Federal, que na estrutura dos poderes no Brasil sempre é quem dá a palavra final em caso de conflitos. Como o estado italiano não concordou com a decisão, recorreu ao Supremo, que vai decidir. Quanto à decisão do presidente, é uma questão discricionária. Não digo que eu faria o mesmo ou não faria porque eu não estou ali naquela situação, mas é uma decisão que ele tomou, polêmica naturalmente como era de se esperar. Mas vamos ver o que o Supremo decide.
Como o sr. vê a prática de concessão de passaportes diplomáticos para parentes de políticos, inclusive um filho do ex-presidente?
Sou legalista por natureza. Acho que devemos observar a legislação, que tem casos e critérios da concessão do passaporte.
No que o seu governo será diferente do governo Aécio?
Todo governo é permanentemente um avanço, não há dúvida disso. É uma constante evolução. Felizmente no governo de Minas fizemos algumas evoluções, talvez num passado mais longínquo algumas involuções, mas que já ficaram perdidas no tempo. O objetivo nosso é continuar avançando, com os mesmos princípios, os mesmos valores. Mas sabemos que temos que reinventar sempre, criar novidades sempre, avançar sempre, com foco maior que é a geração de empregos e grande empenho nosso pela diminuição das desigualdades regionais e da agregação de valor aos produtos mineiros. Agora, para conseguir alcançar nesses três itens sabemos que não é só o governo e não é só um mandato, isso depende de um grande processo (...) Vamos tentar, na medida do possível, com essa geração de empregos de qualidade reduzir essas diferenças (regionais) e combater o bom combate na questão relativa à uma reforma tributária. Porque não temos instrumentos nas mãos dos governos dos estados, a não ser uma alucinada guerra fiscal , que é um contra o outro prejudicando a todos, para os estados tenham condições de atrair empreendimentos novos. Agora depende muito também da grande política econômica, que é nacional e que tem circunstâncias, como a questão cambial, que acaba prejudicando um pouco estados exportadores, como é o caso de Minas Gerais, e prejudicando mais a indústria siderúrgica.
Como o sr. acha que pode, no governo de Minas, ajudar o projeto político do senador Aécio Neves? O sr. tem dito que a geração de empregos de qualidade é prioridade zero de sua gestão. É possível imprimir uma marca social à administração tucana?
Nos últimos oito anos conseguimos avanços expressivos. Somos o primeiro no Ideb, do ensino básico, conseguimos redução de indicadores de mortalidade infantil muito bons e em saneamento somos o terceiro do Brasil. Então mostra que avançamos bem no sentido amplo de qualidade de vida. Agora, em stricto sensu a política social se dá na assistência social e aí inovamos também com projetos importantes como o Travessia e o Poupança Jovem. Mas em razão da injusta distribuição tributária, os estados - não é só Minas Gerais - não têm recursos suficientes para universalizar grandes programas. Talvez falte aos nossos governos do PSDB - sei em São Paulo que o governador Alckmin no primeiro mandato, depois o governador Serra fizeram grandes projetos sociais - alardear um pouco mais isso em vez de ficar só na questão da gestão.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sempre falou em fila no PSDB para justificar a defesa pela candidatura presidencial de José Serra. Por essa lógica, em 2014 chegou a vez do Aécio?
Todos nós mineiros temos essa natural ansiedade, anseio e vontade. Isso ninguém esconde, de ver um mineiro, Aécio, pelas suas qualidades, pelo carisma e até pela grande dedicação e devoção que os mineiros têm com ele, presidente da República. Acho que será um excepcional presidente. Agora, lamentavelmente, não sou eu que escolho quem é candidato. São as várias circunstâncias que ainda vão demorar a chegar. De fato, o PSDB é um partido importante, que perdeu as últimas três eleições presidenciais e ainda que tenha uma bancada importante, que tenha oito governadores, acho que o senador Aécio tem todas as condições se as circunstâncias permitirem.
O atual ministro Gilberto Carvalho provocou a oposição ao afirmar que em caso de dificuldades da gestão Dilma o governo tem um "Pelé na reserva" - numa referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como fica o projeto de poder do PSDB com essa sombra do mito Lula?
A gente não sabe o que vai acontecer daqui a quatro anos, quem serão os candidatos. Nós aqui em Minas gostaríamos que o candidato fosse o Aécio e ele sendo o candidato, ninguém escolhe adversário. A pessoa tem de estar preparada para a disputa e querer ganhar e lutar muito por isso.
Mesmo eventualmente contra Lula?
Aí vai depender das circunstâncias, se ele vai querer ser candidato, se o partido vai dar a candidatura. Mas eu acho que o candidato, quem quer que venha a ser, de um lado e do outro, não pode temer o outro previamente. Se fosse assim eu não tinha sido candidato aqui, porque eu tinha 4% e meu adversário tinha 50%. E eu ganhei com 30% de frente. Então isso é muito relativo, nós temos de aguardar os fatos. O senador Aécio é um homem muito preparado, é um estadista, revelou-se grande administrador aqui no governo de Minas. Tem o apoio praticamente unânime do nosso estado, é uma liderança política nacional muito forte e está maduro para isso. Mas são as circunstâncias do momento. Ele próprio diz que Presidência da República não é projeto, é destino.
O sr. concorda que o PSDB precisa de uma refundação?
Foi um termo polêmico, não é? É uma questão semântica, as pessoas ficam se prendendo a palavras, o que é uma bobagem. Acho que todo o partido, sem exceção, precisa de um permanente processo de oxigenação e de reinvenção e de rediscussão permanente. O PSDB é um partido já de mais de 20 anos. Três derrotas presidenciais, ele tem de debater. Por que é que perdeu? Não é nenhum demérito. Acho que a ideia da refundação, que o senador Aécio levantou e é correta, está dentro desse debate permanente interno. O que nós temos de fazer? Onde vamos melhorar? Isso é que é necessário.
O sr. defende algum nome para a presidência do partido. Faz restrição ao ex-governador José Serra?
Acho que ainda não chegou a hora disso, até porque vai demorar alguns meses e naturalmente as especulações agora estão mais centradas nas mesas em Brasília. Vai chegar o momento oportuno. A presença do senador Aécio em Brasília, no caso do nosso grupo político, vai favorecer muito. Ele é o líder do nosso grupo político, grande em Minas Gerais e com muitos outros parlamentares e políticos de outros estados também.
A rivalidade entre tucanos paulistas e mineiros pode ser superada?
Acho que isso não pode acontecer. O que a gente vê, vez por outra, é um comentário infeliz, daqui ou de lá, de pessoas que muitas vezes não tem responsabilidade de pensar no futuro. Isso tem de ser evitado. O PSDB é um partido nacional, não tem dono, não é de A, de B, de C ou de D. É um partido com milhares de filiados e com milhões de eleitores. E o partido tem de ser nacional. Não é Minas, não é São Paulo, não é o Rio Grande, não Ceará ou Goiás. Tem de ser presente em todos os estados da federação. Apesar de chamar partido, ele tem de ser uma unidade, uma unidade programática, uma unidade de princípios, de ação e uma unidade de propósitos e de objetivos. Se houver uma luta intestina muito forte, com essas rivalidades que não vão a parte alguma, claro que vai isso gerar problema. Mas há uma tendência agora de uma unidade muito forte, exatamente desse movimento de recriação, de união e de fortalecimento do partido após as últimas eleições para nós reconquistarmos a Presidência. Não uma conquista em si do poder pelo poder, mas para implementar as ideias e os programas do PSDB.
Mas já se vê uma camuflada disputa entre alckmistas e serristas em São Paulo?
É uma questão interna... mas aí há também muita especulação. São questões internas e circunstâncias de montagem de governo.
Como espera que seja sua relação com o governador paulista Geraldo Alckmin? Qual a pauta do encontro que vocês terão em São Paulo na sexta? A renegociação das dívidas com a União será tratada?
Uma relação boa, primeiro pela identidade dos dois estados (...) São estados que têm muita identidade. Alckmin, em especial, por ter origem mineira. Até o estilo dele familiar é muito mineiro, então o relacionamento é muito próximo. Temos interesses econômicos próximos, de empresas, de investimentos e interesses de governadores: a reforma tributária, a discussão da dívida, a Lei Kandir, diversos assuntos que nos aproximam. Vou fazer uma visita de cortesia, mas para discutirmos pontos em comum.
A Cemig continua interessada na aquisição da Cesp. Esse assunto poderá ser discutido?
A Cemig tem uma administração absolutamente profissional em termos de sua expansão, porque é uma questão empresarial. Ela tem ações em bolsas e com todas as cautelas e reservas não é o governo que vai dizer o que ela vai fazer, que não vai, é a sua gestão profissional que o faz. Agora, se o assunto vier à tona... porque nós temos um próximo relacionamento de colaboração de energia, de recursos hídricos. Acho que está tudo em aberto para ser discutido.
QUEM É?
Formado em direito, Antonio Junho Augusto Anastasia (PSDB) tem 49 anos e é governador de Minas Gerais. Solteiro Nascido em Belo Horizonte, participou das gestões do ex-governador Aécio Neves (PSDB) como secretário de Planejamento e Gestão, secretário de Defesa Social e vice-governador. Assumiu o governo no ano passado após a desincompatibilização de Aécio e foi reeleito em outubro. No governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ocupou os cargos de secretário-executivo dos Ministérios do Trabalho e da Justiça.
Qual a sua posição e expectativa sobre o governo da presidente Dilma Rousseff?
Acredito que ela tem condições de fazer um bom governo. Teremos com ela um relacionamento administrativo sereno, tranquilo, harmonioso, de muito respeito. Tenho certeza de que ela terá o mesmo com seu estado, que é Minas Gerais. O fato de sermos governadores de oposição - e somos dez - certamente não vai trazer nenhuma diferença nesse relacionamento. O governo Lula teve grandes avanços em diversas áreas e em algumas áreas eu sempre achei que poderia avançar mais, na questão da questão da eficiência e da profissionalização da gestão pública é uma delas. Eu fico satisfeito em saber que o doutor Jorge Gerdau foi chamado para participar do Ministério da Saúde com um projeto de modernização da gestão. Falta ao governo federal isso. Espero que ela toque em algumas feridas que ficaram em aberto no governo passado, como a questão que nos interessa primeiramente aos governadores: a reforma tributária.
É possível já notar alguma diferença entre o governo Dilma e o governo do ex-presidente Lula.
Acho que é muito cedo ainda, são poucos dias.
Falando de questões recentes do governo federal. Como viu a decisão do ex-presidente Lula de negar a extradição de Cesare Battisti para a Itália?
Confesso que não estudei o processo e até como profissional do direito tenho de ter certa cautela. Pelo que li pela imprensa, o presidente tomou a decisão baseado em parecer da Advocacia-Geral da União. Sendo uma decisão que tem um cunho jurídico, pode ser revista pelo Supremo Tribunal Federal, que na estrutura dos poderes no Brasil sempre é quem dá a palavra final em caso de conflitos. Como o estado italiano não concordou com a decisão, recorreu ao Supremo, que vai decidir. Quanto à decisão do presidente, é uma questão discricionária. Não digo que eu faria o mesmo ou não faria porque eu não estou ali naquela situação, mas é uma decisão que ele tomou, polêmica naturalmente como era de se esperar. Mas vamos ver o que o Supremo decide.
Como o sr. vê a prática de concessão de passaportes diplomáticos para parentes de políticos, inclusive um filho do ex-presidente?
Sou legalista por natureza. Acho que devemos observar a legislação, que tem casos e critérios da concessão do passaporte.
No que o seu governo será diferente do governo Aécio?
Todo governo é permanentemente um avanço, não há dúvida disso. É uma constante evolução. Felizmente no governo de Minas fizemos algumas evoluções, talvez num passado mais longínquo algumas involuções, mas que já ficaram perdidas no tempo. O objetivo nosso é continuar avançando, com os mesmos princípios, os mesmos valores. Mas sabemos que temos que reinventar sempre, criar novidades sempre, avançar sempre, com foco maior que é a geração de empregos e grande empenho nosso pela diminuição das desigualdades regionais e da agregação de valor aos produtos mineiros. Agora, para conseguir alcançar nesses três itens sabemos que não é só o governo e não é só um mandato, isso depende de um grande processo (...) Vamos tentar, na medida do possível, com essa geração de empregos de qualidade reduzir essas diferenças (regionais) e combater o bom combate na questão relativa à uma reforma tributária. Porque não temos instrumentos nas mãos dos governos dos estados, a não ser uma alucinada guerra fiscal , que é um contra o outro prejudicando a todos, para os estados tenham condições de atrair empreendimentos novos. Agora depende muito também da grande política econômica, que é nacional e que tem circunstâncias, como a questão cambial, que acaba prejudicando um pouco estados exportadores, como é o caso de Minas Gerais, e prejudicando mais a indústria siderúrgica.
Como o sr. acha que pode, no governo de Minas, ajudar o projeto político do senador Aécio Neves? O sr. tem dito que a geração de empregos de qualidade é prioridade zero de sua gestão. É possível imprimir uma marca social à administração tucana?
Nos últimos oito anos conseguimos avanços expressivos. Somos o primeiro no Ideb, do ensino básico, conseguimos redução de indicadores de mortalidade infantil muito bons e em saneamento somos o terceiro do Brasil. Então mostra que avançamos bem no sentido amplo de qualidade de vida. Agora, em stricto sensu a política social se dá na assistência social e aí inovamos também com projetos importantes como o Travessia e o Poupança Jovem. Mas em razão da injusta distribuição tributária, os estados - não é só Minas Gerais - não têm recursos suficientes para universalizar grandes programas. Talvez falte aos nossos governos do PSDB - sei em São Paulo que o governador Alckmin no primeiro mandato, depois o governador Serra fizeram grandes projetos sociais - alardear um pouco mais isso em vez de ficar só na questão da gestão.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sempre falou em fila no PSDB para justificar a defesa pela candidatura presidencial de José Serra. Por essa lógica, em 2014 chegou a vez do Aécio?
Todos nós mineiros temos essa natural ansiedade, anseio e vontade. Isso ninguém esconde, de ver um mineiro, Aécio, pelas suas qualidades, pelo carisma e até pela grande dedicação e devoção que os mineiros têm com ele, presidente da República. Acho que será um excepcional presidente. Agora, lamentavelmente, não sou eu que escolho quem é candidato. São as várias circunstâncias que ainda vão demorar a chegar. De fato, o PSDB é um partido importante, que perdeu as últimas três eleições presidenciais e ainda que tenha uma bancada importante, que tenha oito governadores, acho que o senador Aécio tem todas as condições se as circunstâncias permitirem.
O atual ministro Gilberto Carvalho provocou a oposição ao afirmar que em caso de dificuldades da gestão Dilma o governo tem um "Pelé na reserva" - numa referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como fica o projeto de poder do PSDB com essa sombra do mito Lula?
A gente não sabe o que vai acontecer daqui a quatro anos, quem serão os candidatos. Nós aqui em Minas gostaríamos que o candidato fosse o Aécio e ele sendo o candidato, ninguém escolhe adversário. A pessoa tem de estar preparada para a disputa e querer ganhar e lutar muito por isso.
Mesmo eventualmente contra Lula?
Aí vai depender das circunstâncias, se ele vai querer ser candidato, se o partido vai dar a candidatura. Mas eu acho que o candidato, quem quer que venha a ser, de um lado e do outro, não pode temer o outro previamente. Se fosse assim eu não tinha sido candidato aqui, porque eu tinha 4% e meu adversário tinha 50%. E eu ganhei com 30% de frente. Então isso é muito relativo, nós temos de aguardar os fatos. O senador Aécio é um homem muito preparado, é um estadista, revelou-se grande administrador aqui no governo de Minas. Tem o apoio praticamente unânime do nosso estado, é uma liderança política nacional muito forte e está maduro para isso. Mas são as circunstâncias do momento. Ele próprio diz que Presidência da República não é projeto, é destino.
O sr. concorda que o PSDB precisa de uma refundação?
Foi um termo polêmico, não é? É uma questão semântica, as pessoas ficam se prendendo a palavras, o que é uma bobagem. Acho que todo o partido, sem exceção, precisa de um permanente processo de oxigenação e de reinvenção e de rediscussão permanente. O PSDB é um partido já de mais de 20 anos. Três derrotas presidenciais, ele tem de debater. Por que é que perdeu? Não é nenhum demérito. Acho que a ideia da refundação, que o senador Aécio levantou e é correta, está dentro desse debate permanente interno. O que nós temos de fazer? Onde vamos melhorar? Isso é que é necessário.
O sr. defende algum nome para a presidência do partido. Faz restrição ao ex-governador José Serra?
Acho que ainda não chegou a hora disso, até porque vai demorar alguns meses e naturalmente as especulações agora estão mais centradas nas mesas em Brasília. Vai chegar o momento oportuno. A presença do senador Aécio em Brasília, no caso do nosso grupo político, vai favorecer muito. Ele é o líder do nosso grupo político, grande em Minas Gerais e com muitos outros parlamentares e políticos de outros estados também.
A rivalidade entre tucanos paulistas e mineiros pode ser superada?
Acho que isso não pode acontecer. O que a gente vê, vez por outra, é um comentário infeliz, daqui ou de lá, de pessoas que muitas vezes não tem responsabilidade de pensar no futuro. Isso tem de ser evitado. O PSDB é um partido nacional, não tem dono, não é de A, de B, de C ou de D. É um partido com milhares de filiados e com milhões de eleitores. E o partido tem de ser nacional. Não é Minas, não é São Paulo, não é o Rio Grande, não Ceará ou Goiás. Tem de ser presente em todos os estados da federação. Apesar de chamar partido, ele tem de ser uma unidade, uma unidade programática, uma unidade de princípios, de ação e uma unidade de propósitos e de objetivos. Se houver uma luta intestina muito forte, com essas rivalidades que não vão a parte alguma, claro que vai isso gerar problema. Mas há uma tendência agora de uma unidade muito forte, exatamente desse movimento de recriação, de união e de fortalecimento do partido após as últimas eleições para nós reconquistarmos a Presidência. Não uma conquista em si do poder pelo poder, mas para implementar as ideias e os programas do PSDB.
Mas já se vê uma camuflada disputa entre alckmistas e serristas em São Paulo?
É uma questão interna... mas aí há também muita especulação. São questões internas e circunstâncias de montagem de governo.
Como espera que seja sua relação com o governador paulista Geraldo Alckmin? Qual a pauta do encontro que vocês terão em São Paulo na sexta? A renegociação das dívidas com a União será tratada?
Uma relação boa, primeiro pela identidade dos dois estados (...) São estados que têm muita identidade. Alckmin, em especial, por ter origem mineira. Até o estilo dele familiar é muito mineiro, então o relacionamento é muito próximo. Temos interesses econômicos próximos, de empresas, de investimentos e interesses de governadores: a reforma tributária, a discussão da dívida, a Lei Kandir, diversos assuntos que nos aproximam. Vou fazer uma visita de cortesia, mas para discutirmos pontos em comum.
A Cemig continua interessada na aquisição da Cesp. Esse assunto poderá ser discutido?
A Cemig tem uma administração absolutamente profissional em termos de sua expansão, porque é uma questão empresarial. Ela tem ações em bolsas e com todas as cautelas e reservas não é o governo que vai dizer o que ela vai fazer, que não vai, é a sua gestão profissional que o faz. Agora, se o assunto vier à tona... porque nós temos um próximo relacionamento de colaboração de energia, de recursos hídricos. Acho que está tudo em aberto para ser discutido.
QUEM É?
Formado em direito, Antonio Junho Augusto Anastasia (PSDB) tem 49 anos e é governador de Minas Gerais. Solteiro Nascido em Belo Horizonte, participou das gestões do ex-governador Aécio Neves (PSDB) como secretário de Planejamento e Gestão, secretário de Defesa Social e vice-governador. Assumiu o governo no ano passado após a desincompatibilização de Aécio e foi reeleito em outubro. No governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ocupou os cargos de secretário-executivo dos Ministérios do Trabalho e da Justiça.
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