Num ambiente em que não há polarização ou debate de idéias, a tendência é que surjam conflitos de moderada intensidade na própria força hegemônica. Ontem, algo de absolutamente fabuloso se deu, narrado no Globo Online, que reproduzo abaixo. Um secretário — demissionário! — do Ministério da Ciência e Tecnologia falou a uma comissão do Congresso e admitiu sobre os desastres no Rio: “Eu venho aqui para dizer isso mesmo, falamos muito e não fizemos nada.” A fala inteira segue abaixo e é espantosa. Alguém aí ouviu alguma voz da oposição cobrando o governo por isso? Nada! Vimos hoje o governador de Minas, Antonio Anastasia, trocando amabilidades com a presidente Dilma Rousseff. Leiam o que segue. Volto em seguida:
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Embora sem poder para deliberar nada, a Comissão Representativa do Congresso Nacional reuniu-se nesta quinta-feira para discutir providências necessárias para impedir novas tragédias como a registrada agora na região serrana do Rio. Convidado pela senadora Marina Silva (PV-AP) para participar do debate, o secretário demissionário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia, Luiz Antônio Barreto de Castro, admitiu que o governo federal falou mais do que fez para evitar tragédias como esta.
“Eu venho aqui para dizer isso mesmo, falamos muito e não fizemos nada. Há dois anos fizemos um plano de radares para entrar no PAC I, não conseguimos. Fomos orientados então a entrar no PAC 2, ficamos fora. Aí eu perguntei pro meu ministério: e agora? O presidente disse que devíamos colocar no PCTI, o Plano de Ciência, Tecnologia e Inovação governamental, que não teria fôlego para financiar 115 milhões (necessário)”, revelou o secretário.
Diante disso, Castro contou que foi criado, em agosto do ano passado, um grupo de trabalho que ouviu dez estados e todas as instituições que atuam nessa área para definir um projeto piloto com um custo estimado em R$ 36 milhões. Mas nem mesmo esses recursos foram liberados.
“Se gastarmos adequadamente R$ 36 milhões ao longo deste ano, não morre ninguém no ano que vem. Vou dizer isso e deixar isso aqui. E isso não significa que nós devemos gastar só os R$ 36 milhões e pronto. Nos próximos anos, também vamos ter de gastar dinheiro. Mas o modelo é simples. Há mais de dez anos fui à Venezuela e encontrei um sistema desse funcionando em Caracas, com uma sala de situação, onde as pessoas ficam sentadas todos os dias, ano novo, Natal e carnaval, que tinha uma relação direta com a Defesa Civil e radares para prever chuvas”, defendeu o secretário, acrescentando que um grande sistema nacional terá mais dificuldade de funcionar do que se ele for implantado um em cada prefeitura de médio porte.
Voltei
Leram? Não só ele admite a desídia do governo federal como ainda dá uma paulada no dito “supercomputador” de Aloizio Mercadante. O que ele fala faz ou não sentido? Quem se interessa em cobrar o governo federal por suas responsabilidades? Abaixo, escrevo um post sobre a demissão de Pedro Abramovay, o secretário que defendeu que “pequenos traficantes” fiquem soltos. O que a oposição pensa a respeito? Ora, nada! Cobrei aqui na semana passada a demissão do rapaz. Os adversários do PT se calaram — e o próprio PT resolveu esse problema ao menos.
Como se nota, em país que não tem oposição, o simples bom senso parece ser antigovernista. No caso de Abramovay, até o governo preferiu se alinhar com o protesto dos críticos a ficar com o silêncio cúmplice da oposição. Um silêncio que, como se percebe, pode até matar. Por Reinaldo Azevedo
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