Jornal O Tempo, Telmo Fadul:
Deputado federal em segundo mandato, considerado braço direito do senador Aécio Neves e reconduzido à secretaria geral do PSDB, ele fala das mudanças que a sigla precisa implementar para se preparar para a disputa presidencial e admite sua candidatura à Prefeitura de Belo Horizonte no ano que vem.
O senhor foi reconduzido a mais um período à frente da secretaria geral do PSDB. Que autocrítica o senhor faz da última gestão?Nesse último período, fizemos um grande esforço pela unidade do partido para que ele chegasse fortalecido nas eleições para presidente, governador e para os cargos legislativos no ano passado. Apesar de ter perdido a eleição para presidente da República, nosso candidato teve votação importante: 45% dos votos. Elegemos também oito governadores de Estado, o que credencia o PSDB como o maior partido de oposição no Brasil. Ao mesmo tempo, a derrota presidencial também impõe uma reflexão, ainda mais a nós, que sofremos o terceiro revés seguido. Nós sentimos necessidade de fazer um esforço muito maior de renovação do partido e de suas ações. Isso que nos levou, Sergio Guerra e eu, a pleitear a recondução.
Muda alguma coisa nas linhas de ação do partido?Nós da executiva, na gestão passada, ficamos presos a um embate, a uma discussão em relação aos nossos possíveis candidatos a presidente da República, que seriam Aécio Neves ou José Serra. Isso alimentou páginas dos jornais, mas levou o PSDB muitas vezes a estar imobilizado em torno dessa discussão. A nossa proposta para os próximos anos é a renovação do partido, que tem que se dar em alguns graus - já fazendo um preparativo para eleições municipais do ano que vem. Mas as eleições municipais já servem como ponto de partida para 2014. Também vamos propor uma discussão sobre as bandeiras do PSDB, que tem que apresentar um discurso mais moderno para a sociedade brasileira.
São mudanças mais profundas no PSDB?O mundo tem passado por grandes transformações, temos que ter um discurso condizente com a realidade de hoje. Outro ponto importante é que temos que fazer um trabalho de filiação de novas pessoas, especialmente das camadas mais jovens. Enfim, temos que atrair todos aquele que querem participar ativamente das discussões sobre temas nacionais. A gente vai procurar fazer esse trabalho de filiação. Há mais de oito Estados onde não temos deputados federais. O PSDB é um partido nacional e tem que estar presente e forte em todos os Estados. Vamos rever as nossas estratégias, de maneira especial, no Nordeste e Norte do país.
Muita gente critica o chamado "caciquismo" do PSDB. Há ainda um predomínio da cúpula entre os tucanos?Não. Nós estamos procurando dar cada vez uma participação maior aos tucanos. Queremos dar mais voz e vez aos nossos vereadores, deputados estaduais e federais de todo o país. Vamos procurar também levar o partido a um maior nível de democratização. Queremos incentivar a participação dos filiados e dos detentores de cargos eletivos nas discussões sobre os rumos do país.
Integrantes do PSDB dizem que Aécio Neves é o candidato natural...
Ainda não há o candidato nem há discussão sobre candidatura presidencial em 2014. Agora, é claro que o Aécio tem papel fundamental no Brasil: é o grande líder das oposições. Isso traz reflexos dentro do PSDB. Mas nós temos grandes nomes: o ex-presidente Fernando Henrique, o ex-governador José Serra, os nossos governadores atuais.
Havia alguma disputa interna no PSDB pela secretaria geral?Às vésperas de uma convenção, é natural que você tenha em disputa alguns cargos. A secretaria geral é o segundo cargo em importância no PSDB. É natural que um ou outro companheiro pleiteie. Foi feito para esta convenção um grande esforço de unidade do partido.
O fato de o senhor estar na secretaria fortalece Aécio Neves na disputa pela condição de candidato em 2014?
Eu, Rodrigo de Castro, já estava na secretaria geral e fui reconduzido. Todo mundo sabe da minha ligação com Aécio e do meu compromisso de estar sempre com ele. Mas o partido entende que a discussão sobre candidatura à Presidência é prematura.
Quando ela entra na pauta?Na última eleição, nós quase entramos no período eleitoral sem ter escolhido candidato, enquanto a candidata do governo já tinha sido colocada há muito tempo. Isso nos prejudicou. Mas, neste momento, não cabe a discussão para presidente, mesmo porque faltam quatro anos. Há consenso que o partido precisa passar por algumas fases em busca de seu fortalecimento.
Alguns tucanos defendem que a escolha seja adiantada para que, já nas eleições municipais do ano que vem, o pré-candidato ao Planalto possa aparecer...Decidirmos o candidato antes pode até ser benéfico para o partido. Mas definir no ano que vem é muito cedo.
E a aliança com o DEM?Nós sofremos neste ano um ataque especulativo, especialmente por parte do PSD. A criação do PSD significou um duro revés especialmente para nossos aliados, o PPS e o Democratas. Isso nos leva à necessidade de estarmos mais unidos. Nós vamos estar cada vez mais estreitando laços. Mas isso não significa que em todos os municípios só um dos nossos partidos tenha candidato. Às vezes é até estratégico ter duas candidaturas para buscar um eventual segundo turno.
O PSDB pode se aliar ao PSD nas próximas eleições?Na criação do PSD, nós sentimos pontos negativos: muitos parlamentares trocaram de partido só porque estavam insatisfeitos com a sua legenda ou porque queriam migrar para a base governista. Esse é o ponto onde houve estrago grande nas oposições. Agora, é claro que temos de ter diálogo com todos os partidos. O PSD está entre eles.
O diálogo aberto inclui também siglas da base da presidente Dilma?
É claro que qualquer partido que pleiteie a Presidência da República e a vitória em governos de Estados tem que procurar ampliar o seu leque de alianças. Isso faz com que tenhamos um bom diálogo com partidos que eventualmente integrem a base do governo, como, por exemplo, o PSB e o PP. Importante é destacar que hoje os partidos podem estar na base da presidente Dilma. Mas, com a proximidade das eleições, se a sociedade já sinalizar uma possível mudança em relação à Presidência, isso pode servir como um atrativo para esses partidos estarem conosco.
E em Belo Horizonte, o PSDB deve permanecer com Marcio Lacerda ou lançar candidatura própria?Um partido como o PSDB, da dimensão do PSDB, tem que estar preparado para enfrentar qualquer desafio. No momento em que temos aliança, como hoje com o Marcio, pode ser que o caminho seja estarmos de novo com o prefeito. Temos uma participação importante em cargos da prefeitura. Temos a oportunidade de mostrar o jeito do PSDB de governar. Mas temos que estar preparados para a candidatura própria.
O senhor seria o candidato a prefeito?
Eu sempre digo: eu sou eleitor em Belo Horizonte, tenho um histórico de comprometimento com as causas do município, com o bem-estar da população, portanto, posso ser o nome para o ano que vem. O partido tem ótimos nomes. Isso não é questão prioritária agora
Alguns parlamentares reclamam que Minas está desprestigiada no cenário nacional. O senhor concorda?
Olha, apesar de termos uma presidente mineira, sinto que há um grande abandono das questões do nosso Estado. Temos na capital e na região metropolitana algo que cada vez mais tira qualidade de vida dos mineiros: o caos no trânsito. Solução para isso passa pelo transporte público e pelo metrô. A presidente Dilma Rousseff já foi ministra responsável pela infraestrutura, mas não fez nada pelo metrô de Belo Horizonte. As rodovias federais que cortam Minas Gerais estão em completo estado de abandono. (Telmo Fadul)
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