domingo, 25 de setembro de 2011

ENTREVISTA DO PREFEITO MARCIO LACERDA AO JORNAL O TEMPO PUBLICADA HOJE

Descontraído e entusiasmado com a gestão, em entrevista exclusiva para O TEMPO, ele defende uma aliança formal entre seu partido, o PSB, com PT e PSDB. Diz que o mote da campanha serão as obras e que gostaria de ter um vice mais agregado

 O senhor vai fazer o anúncio da sua candidatura em dezembro?

FOTO: LEO FONTES
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Essa coisa se antecipou muito por causa da pressão da imprensa. Um pergunta, o outro pergunta, daí um fala uma coisa, o outro vai e responde, aí, tem uma movimentação. Eu preferiria ter começado a lidar com esse assunto em 2012. Mas houve toda essa antecipação e a gente tem que se mexer. O que eu venho fazendo desde fevereiro, março, quando me perguntavam se era possível reeditar essa aliança, daí eu dizia: olha, se as eleições fossem hoje ou daqui a quatro meses, eu diria que era praticamente impossível, mas, daqui a oito meses, poderá ser diferente. Então, esses oito meses se passaram e, agora, a realidade é outra.

Por quê?

Porque as cúpulas dos partidos refletiram bem e entenderam que era melhor para todos, principalmente porque - e isso a gente repete sempre - a cidade votou na aliança, a aliança está dentro da prefeitura e trabalhando harmonicamente. Se um partido sai e vai criticar um trabalho do qual ele participou, então, ele vai ter que trazer uma proposta nova, o que não é fácil. Então, eu tenho muito receio de antecipar muito as coisas e prejudicar a gestão. Se houver um rompimento entre partidos aqui dentro, é ruim para a cidade.

Mas os partidos estão mais tranquilos?

Claro que sim. Mas tenho que tomar cuidado. Fica aquela coisa - algodão entre cristais - para que realmente não seja dado nenhum passo agressivo. Você sabe também como os partidos são. Você pode até chegar à convenção de junho e ter uma surpresa. Pode ter alguma mudança enquanto a convenção de junho não chegar e dizer: "olha, a nossa chapa é esta".

A situação com o PT agora é inversa à de 2008?

É, em 2008, o diretório municipal e o estadual queriam a aliança e a direção nacional do PT não queria. É a questão da informalidade. Agora, a questão é diferente, o clima na direção nacional é a favor da aliança formal, inclusive. E tem aí um setor dentro do PT que polarizou, mas a gente entende que isso é negociável. Então, o fato novo em relação a isso, pelo quadro atual, é que parece que a gente vai ter candidato do PMDB, do PV e vamos ter a nossa. Hoje (quinta-feira) veio o pessoal do PR pedir para marcar uma reunião aqui. Eu tenho que me reunir com PPS, PTB e esses outros que nos apoiaram. Com o PRB adiantamos bem a conversa.

O senhor acha que vai fazer uma aliança muito mais ampla do que a de 2008? 

Em relação a 2008, o que nós temos de diferente, até agora, é o PCdoB e só, por enquanto. O PDT é uma incógnita, a gente não sabe ainda. Eles iam participar do governo, mas tiveram um recuo que partiu deles, não foi nosso. E o PRB, que esteve com o PCdoB na outra eleição. Na realidade, é uma aliança para a cidade, porque esse pessoal todo já coopera para o nosso governo através da Câmara. Com exceção de alguma ou outra posição mais política e ideológica do PT e de alguma posição pequena do PMDB, a Câmara tem uma posição de parceria conosco. E esses partidos estão todos lá. Então, assim, não é um aliciamento. Não é isso, eles já estão aqui.

O quanto a presidente Dilma está influenciando nessa reedição da aliança? 

Eu vejo a presidente Dilma da mesma forma que o presidente Lula, na posição de magistrada que tem que olhar o interesse do país. Em 2008, o presidente Lula deu a bênção para a aliança aqui em Belo Horizonte. E ele tinha conhecimento, até onde eu sei, das articulações que eram feitas pelo Pimentel, Aécio, Ciro e o Eduardo Campos. Antes mesmo de eu saber, Lula já sabia e participava. Dilma, tal como o Lula, tem esse papel. Mas foi noticiado que ela via com bons olhos a aliança. E é verdade. Assim como o Lula, que esteve aqui e, daí quatro dias, fui visitá-lo com o Walfrido, em São Paulo, e conversamos por quase duas horas. O próprio Aécio e o Eduardo Campos, todo mundo é favorável. A nossa conversa com o PSDB foi muito boa, tanto com o estadual quanto com o municipal. O Walfrido tem me ajudado, mas o ritmo, a estratégia, está sendo conduzido por mim.

É uma posição difícil ficar aí no centro de uma aliança tão difícil entre o PT e o PSDB? A convivência com o PT municipal e com Roberto Carvalho está difícil? 

Olha, o Roberto Carvalho é pré-candidato desde o início de 2009. A gente tem notícia das movimentações dele, desde o primeiro mês, conversando com vereadores. Ele foi convidado e participou de todo o planejamento nosso, seja no detalhamento do mandato como no planejamento estratégico. Quase não falou, mas esteve presente nas reuniões. Ele recebeu tarefas importantes para cuidar de assuntos da região metropolitana, da questão de idosos e da juventude. Mas não teve muita motivação para isso. A motivação dele foi sempre mais para a articulação política. Até um ano atrás, ele participava, nós temos uma reunião toda segunda-feira de coordenação política. Ele participou até um ano atrás, depois, não veio mais. Então, não tem assim nenhum conflito pessoal com ele. Tem diferentes projetos, vamos chamar assim. Eu acho que o PT reconhece que nós ampliamos os projetos sociais e inovamos em algumas coisas. A gestão participativa, nós ampliamos, demos uma avançada. Então, assim, eu não sei qual é a crítica. O PT municipal está orientando a bancada a votar contra as Parcerias Público-Privadas (PPP). E as PPPs foram aprovadas nas instâncias da saúde, da educação, inclusive na Conferência Municipal de Saúde. Então, é uma questão mais política mesmo. Seria muito importante ter o PT conosco. Eu acho que vai dar certo.

O senhor gostaria de ter um vice mais entrosado para a próxima campanha? 

Naturalmente, eu acho que o perfil do vice tem que ser um perfil de gestor com sensibilidade política. E que seja agregador não só dentro do seu partido, mas na relação com os outros partidos. Então, ter um vice que hostilize companheiros de aliança não seria bom.

Mas o senhor tem alguma preferência?

Não. Eu acho que tem que ser uma escolha do PT.

O pessoal fala sobre o Miguel Corrêa, o senhor gosta dele? Gosto, eu gosto do Miguel. Mas é aquela história, a decisão é do PT. Mas eu não tenho nenhuma restrição ao nome do Miguel não.

O senhor está apostando em uma aliança formal com PT e PSDB? 

Claro, claro. E o PPS também.

E o vice tem que ser do PT?

A proposta é essa, e o PSDB concorda com isso.

Vamos supor que o senhor seja reeleito, como que o senhor vai fazer em 2014?

A questão municipal é muito diferente da estadual e da nacional. Nós tivemos a aliança em 2008 e, em 2010, eu estava de um lado para governador e de outro lado para presidente. Esse é um aspecto. Outro aspecto é que, na eleição municipal, a cidade não está preocupada com questão ideológica. Há um consenso sobre o que é o melhor para a cidade. Eu acho que vamos chegar a 2012 com uma boa marca de cumprimento de metas. Interessa, então, aos partidos estarem associados a esse bom momento da cidade. Agora, para 2014, o ideal seria esse: eu estar na prefeitura e o meu partido estaria tomando alguma decisão em relação à eleição estadual e à eleição para presidente. Eu vou influir nesse processo, mas não posso antecipar o que vai acontecer.

O senhor não teve que escolher para 2010 e não vai ter que escolher agora para 2012, mas admite que em 2014 vai ser mais complicado? 

Deixa eu ganhar a eleição de 2012 primeiro.

Falam do nome do senhor, inclusive, como candidato ao governo para 2014. Primeiro, eu acho que a prefeitura é uma experiência fascinante. Do ponto de vista de realização, e todo político fala isso, a melhor experiência da vida foi ser prefeito. Porque você vê o resultado do seu trabalho muito próximo, a demanda do seu trabalho também é mais próxima. No governo do Estado, é uma coisa mais distante. O governo federal, então, é muito mais. Aqui a gente consegue mobilizar as pessoas para resolver um problema. Veja bem, tem tanta coisa para fazer e a gente está construindo tanta coisa boa para a cidade...

O senhor está dizendo que não gostaria de sair da prefeitura em 2014? 

Não, realmente eu não gostaria. Eu falo isso de coração. É um trabalho que você vai construindo, construindo. A cidade é algo que tem uma construção difícil, uma costura minuciosa. O resultado não aparece de imediato. Tem tanta coisa sendo preparada e que só vai aparecer no futuro.

Então, o senhor quer completar um eventual segundo mandato? Ah, sim. Certamente! O governo do Estado não é algo que eu tenho no meu coração, não está na minha cabeça. Eu acho até que a cidade não gostaria disso.

O que o senhor acha que vai ser a marca do seu governo numa eventual campanha no ano que vem? O senhor acha que vai ser conhecido como o prefeito que fez obras?

Olha, eu acho que é o mote central do meu discurso, se eu tivesse que decidir hoje. O diagnóstico, em 2008, era esse: "nós queríamos fazer isso aqui e fizemos isso. Fizemos isso aqui e mais". Teve coisa nova que a gente nem pensou. Para você ver: a questão de inundação, de enchente, em 2008, ninguém fala disso, embora a gente já tivesse inundação na cidade, mas não era coisa pesada. De repente, entrou na agenda e a gente teve que ir buscar recursos e gastar recursos que não estavam previstos. Tem essas surpresas. Então, nos comprometemos com isso, fizemos isso e o nosso programa para os próximos anos é esse. Então, acho que o discurso tem que ser esse e é bem prático mesmo.

Então o senhor vai trabalhar mesmo a questão das obras, dos projetos para a cidade? Não só obras. Se você, hoje, entrar em uma reunião de idosos, eles vão dizer: "essa administração fez muito por nós". E o que você vai ver não é obra. Tem uma obrinha aqui, outra ali, academia da cidade, mas tem, assim, uma série de coisas que levou o idoso a falar: "opa, estou mais protegido". Para as crianças, a gente avançou muito na educação. Se você perguntar aos médicos da cidade que lidam com saúde pública, é a mesma coisa. Vai ter um ou outro funcionário da prefeitura que critica, mas é um ou outro. A classe médica, de modo geral, diz: "olha, estou com você, prefeito".

Quando o senhor foi candidato em 2008, tinha um segmento do funcionalismo público que não o apoiava e que até veio a público falar disso. Como que é a relação hoje com o funcionalismo público? O senhor não enfrentou muitas greves... 

Não, nós tivemos greves. Eu não tenho negociações diretas com sindicato. Eu sempre delego as negociações, mas acompanho passo a passo. Sempre procurando manter uma postura, digamos, "soft" no processo. Embora não tenhamos tido greves políticas assim. Como a gente implantou várias coisas novas, um programa de saúde do servidor público é uma coisa nova que nós fizemos. Estamos implantando o sistema de previdência da prefeitura, que não tinha. Estamos introduzindo em algumas carreiras o salário variável, introduzindo na guarda municipal, nos agentes de saúde, no pessoal de zoonoses. Vamos ter. Na auditoria, já foi aprovada. Resolvemos questões de várias categorias do funcionalismo que estavam amarradas há muito tempo. Na verdade, o passivo de pendências era muito grande. Mas, felizmente, o custo da folha tem subido menos do que o crescimento da arrecadação. (Carla Kreefft)

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