sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Debate expõe olhar da música, teatro e moda sobre a literatura

Ronaldo Fraga relaciona moda e literatura no evento. Foto: José Guilherme Camargo/Especial para Terra
Ronaldo Fraga relaciona moda e literatura no evento
Foto: José Guilherme Camargo/Especial para Terra

    JOSÉ GUILHERME CAMARGO
    Direto de Sete Lagoas
    "Literatura e a conversa com as outras artes" foi o tema abordado pelos convidados do terceiro dia de debates sobre a obra de Fernando Sabino, no Literata, nesta sexta-feira (25), em Sete Lagoas. Fazendo referencia a múltiplas atividades exercidas durante a vida pelo escritor mineiro - que também foi cronista, romancista, esportistas, editor e músico -, personalidades da música, teatro e moda referenciaram a obra Encontro Marcado e debateram a "apropriação" de uma mesma obra sobre diversos gêneros artísticos.
    A mesa redonda foi mediada pela jornalista Michele Borges e teve a participação de expoentes nomes do cenário artístico brasileiro como o estilista Ronaldo Fraga, o músico Dr. Morris, o diretor de teatro Paulo César Bicalho e a atriz e diretora Yara de Novaes. O debate começou com o depoimento de Paulo César Bicalho, diretor responsável pela adaptação da principal obra de Sabino, o livro "Encontro Marcado" de 1956, para o teatro. Ele contou que tentou ser extremamente fiel ao retratar a narrativa na peça teatral.
    "Readaptar Encontro Marcado para o teatro era considerada uma ousadia na época, mas eu não senti isso. Era um entusiasmo para mim. Foi uma experiência muito interessante retratar os preconceitos de uma cidade de Belo Horizonte provinciana, que no livro ele enfrentou de forma tão engraçada", lembrou. Porém, para Bicalho, o trabalho também representou um enorme desafio. "Tive que pegar uma história de rebeldia e expressões vividas na época e colocar no teatro. Era um desafio encontrar atores que mostrassem essa forma divertida e cotidiana dos personagens", disse.
    A diretora e atriz Yara de Novais, que também é formada em Letras, reafirma a experiência de Bicalho, a qual preferiu se referir como sendo uma "apropriação". "Quando se retrata uma arte como a literatura, é comum dizer adaptação, mas isso é uma coisa muito passiva. É melhor falarmos em apropriação. É preciso ampliar esse universo, fazer com que aquilo ganha uma identidade nossa também", explicou. Segundo ela, existem adaptações de obras, como Macunaíma de Mário de Andrade, para o teatro que criam novas vertentes. "A literatura abre portas para outras linguagens teatrais", disse.
    E em um ambiente de poesia e interpretação, o músico Dr. Morris conseguiu extrair elementos que complementam e até servem de inspiração para suas composições. "De alguma maneira, esse passeio entre as artes, me faz pensar em sonoridade, principalmente no teatro", disse. Ele contou que através de alguns contos, consegue extrair inspiração para fazer uma canção. Como por exemplo, o conto "Flor de Vidro" do escritor Murilo Rubião, que Dr. Morris apresentou em forma de música durante o debate.
    Contudo, a expressão artística que mais despertou a curiosidade do público foi a moda. Afinal, como a literatura poderia influenciar neste gênero? Coube a Ronaldo Fraga responder e convencer o público. Para isso, bastou citar o trecho de uma crônica do poeta Carlos Drummond de Andrade de 1920: "A moda nos traz uma péssima notícia para essa estação: os comprimentos dos vestidos desceram. Estaremos privados dos lindos tornozelos das moças entrando no bonde. Mas não se desespere: quando o comprimento do vestido desce, desce também a altura dos decotes" LEIA MAIS 

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