segunda-feira, 1 de julho de 2013

METRO BELO HORIZONTE - VALOR DO TREM-BALA DARIA PARA CONSTRUIR 12 METRÔS EM BH E...

Duplicar um terço das estradas

Projeto tem investimentos previstos de R$ 35,6 bilhões, montante 12 vezes maior do que os R$ 2,86 bilhões previstos para a expansão do metrô de Belo Horizonte

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Expansão do metrô de Belo Horizonte é prometida a décadas
PUBLICADO EM 30/06/13 - 03h00

Tudo começou contra um aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus e transbordou para as ruas que, agora, estão cheias de indignação e cobrança. Enquanto o povo grita por uma país mais sensato, incluindo um transporte público digno, o mercado aguarda o leilão do trem-bala que ligará Rio de Janeiro a Campinas e São Paulo, inicialmente marcado para 19 de setembro. O projeto tem investimentos previstos de R$ 35,6 bilhões. Esse montante é 12 vezes maior do que os R$ 2,86 bilhões previstos para a expansão do metrô de Belo Horizonte.


Com os recursos do trem-bala, também daria para duplicar pelo menos um terço de toda a malha rodoviária estadual de Minas Gerais que ainda tem traçado simples. Hoje, segundo estudo da Confederação Nacional de Transporte (CNT), o Estado tem 14,37 mil km pavimentados. Desse total, 12,9 mil km (90%) não são duplicados. As contas consideram o volume gasto para duplicar a BR–381. Os gastos serão de R$ 2,6 bilhões, para 303 km de Belo Horizonte a Governador Valadares, o que dá uma média de R$ 8,5 milhões por km. Portanto, com os R$ 35,6 bilhões do trem bala, daria para duplicar 4.188 km de estradas mineiras, o equivalente a 32% da malha estadual simples.

O governo vai bancar as obras do Trem de Alta Velocidade (TAV) com empréstimos bancários que serão pagos pela receita com as passagens. Depois, serão contratadas outras companhias para manter as linhas e explorar as estações. O coordenador do MBA de Logística da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBS), professor Renaud Barbosa da Silva, lembra que há mais dinheiro público envolvido, já que o BNDES deve liberar recurso para os concessionários. “O BNDES deve financiar com juros subsidiados e é o governo quem subsidia isso”, ressalta.

Segundo Silva, falta planejamento para infraestrutura. “O TAV não é nem nunca foi prioritário e pensar isso é maluquice. Neste momento, o metrô é muito mais prioritário. Mas o governo não estabelece prioridades. Para se ter uma ideia, há cinco anos, a FGV foi contratada para fazer um estudo de um anel ferroviário para São Paulo, que ajudaria a desafogar o transporte de cargas porque os trens poderiam ir a Santos 24 horas por dia, em vez de só fora dos horários de pico. Mas esse projeto foi engavetado, junto com vários outros”, aponta.

Só em Belo Horizonte, a verba de R$ 2,86 bilhões anunciada para expansão do metrô, daria para expandir a linha 1 e construir outras duas linhas. Quando tudo estiver pronto, a capacidade será de 1 milhão de passageiros por dia, quase dez vezes mais do que o trem-bala vai transportar. Só na linha atual, a capacidade de passageiros seria ampliada de 230 mil para 300 mil passageiros por dia.

Para o professor de Engenharia de Transporte e Trânsito e Infraestrutura de Estradas da Fumec Márcio Aguiar, estradas e metrô são mais úteis e emergenciais. “Mal conseguimos duplicar a BR–381, não dá para pensar em TAV. O metrô é prioridade desde 1980. O trem-bala pode até ser importante para o futuro, mas, no presente, temos que nos preocupar em resolver o problema de mobilidade urbana e a solução é colocar o transporte público nos trilhos”, afirma Aguiar.

Metrô BH

A construção das linhas 2 e 3 permitiria o transporte de mais de 700 mil usuários diariamente. Somando-se aos 300 mil da nova linha 1, a capacidade subiria para 1 milhão por dia. A previsão diária para o trem-bala é de cerca de 110 mil passageiros, ou seja, em 40 dias, o metrô de BH transportaria o que o trem bala levaria em um ano inteiro para transportar.
Fracasso

O governo já tentou licitar o trem-bala em 2011. Por ser muito caro e oferecer riscos elevados ao investidor em relação às taxas de retorno oferecidas, o leilão fracassou com a falta de interessados. O governo federal decidiu dividir o projeto em duas etapas. Na primeira fase ( em setembro) escolherá o operador e, depois, contratará obras de infraestrutura.
Governo muda regras da concessão

Brasília. O governo alterou as regras de concessão do projeto do trem-bala. A intenção é reduzir a possibilidade de uso de dinheiro do Orçamento no projeto. A construção e a administração da linha e das estações não serão mais concedidas à iniciativa privada, como estava previsto para ocorrer em 2014. Os 511 quilômetros de linha serão objetos de uma licitação de obra pública, dividida em dez lotes.

Pelo modelo anterior, a empresa que vencesse a concessão receberia o pagamento pelo serviço ao longo de 35 anos, após ter construído a linha e as estações, e poderia fazer a exploração imobiliária da estação e arredores. O dinheiro usado pelo governo para pagar a obra seria levantado com parte do pagamento das passagens cobradas dos usuários. Pelo novo modelo, o governo pagará pela obra antes da operação do trem. Para isso, pretende ir ao mercado bancário para antecipar o recebimento previsto das passagens.

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