Terreno onde seria construída a rodoviária de BH vira "piscinão"Área na Região Oeste de BH que abrigaria terminal terá barragem de 600 milhões de litros de água de chuva para evitar enchentes. Impacto da obra gera preocupação
Publicação: 03/09/2013 06:00 Atualização: 03/09/2013 07:14
Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, que liga a Tereza Cristina à Silva Lobo, será engolida pela barragem |
O terreno onde seria construída a rodoviária, no Bairro Calafate, na Região Oeste de Belo Horizonte, dará lugar a um piscinão com capacidade para 600 milhões de litros, seis vezes o volume da Barragem Santa Lúcia, no Centro-Sul. A bacia de detenção de água da chuva, que só perderá em tamanho na capital para a Lagoa da Pampulha, vai evitar transbordamento do Ribeirão Arrudas. A prefeitura pretende começar as obras no início do ano que vem. Mas, considerando o histórico de polêmicas envolvendo a rodoviária, que não vingou, o projeto não deverá navegar em águas mansas. Ao lado da Via Expressa e da Silva Lobo, importantes avenidas da cidade, a obra de grande impacto urbano já é vista como paliativa por especialista e levanta dúvidas e resistência de moradores da área que será desapropriada.
A bacia de detenção do Calafate faz parte de um pacotão de R$ 1 bilhão em obras de prevenção de enchentes com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, com contrapartida da prefeitura.
A obra na região dos bairros Calafate e Coração Eucarístico vai engolir a Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, que faz a ligação das avenidas Tereza Cristina e Silva Lobo. Com cinco metros de profundidade, o piscinão terá capacidade para 600 milhões de litros de água, alimentados pela água da chuva. Em fase de projeto executivo, ainda não houve a definição se a bacia ficará seca fora dos período chuvoso ou com espelho d’água permanente de poucos centímetros, para fins paisagísticos. De toda forma, a área receber equipamentos e espaços de lazer.
Uma galeria subterrânea será construída na Tereza Cristina, ao lado do Arrudas, para receber a água que extravasaria do leito do ribeirão. Esse excedente irá direto para a bacia de detenção. “Ela será devolvida aos poucos para o Arrudas, por gravidade e um sistema de comportas”, informa Aroeira. Os detalhes em relação às mudanças de trânsito ainda estão sendo definidos. “Não há qualquer conflito com a expansão do metrô e o desvio de tráfego será detalhado no projeto executivo”, ressalta.
Já a bacia de detenção do Bairro das Indústrias terá funcionamento parecido, mas capacidade de 120 milhões de litros, equivalente à da Barragem Santa Lúcia.
CANALIZAÇÃO E OCUPAÇÃO DO SOLO
Um dos coordenadores do Projeto Manuelzão, da UFMG, Marcus Vinícius Polignano considera a bacia uma medida paliativa. “Qualquer ação que tenha um impacto na captação e reserva da água de chuva tem resultado positivo, mas a dúvida é se isso resolverá o problema, dada a impermealização da região. A prefeitura tem que atacar questões sistêmicas, como restrição das canalizações, controle do uso e ocupação do solo e plano estratégico para áreas verdes”, reforça. O Manuelzão busca a recuperação da Bacia do Rio das Velhas, à qual o Arrudas pertence.
Na sexta-feira, representantes da prefeitura se reuniram com os moradores para apresentar detalhes do projeto. A principal preocupação da comunidade é a desapropriação. “Tem gente que prefere dinheiro, outros apartamento. Estamos nos mobilizando para ver como vai ficar e para que esse processo ocorra de forma justa”, afirma o motorista Alexandro de Souza, de 21, líder comunitário da Vila Bambirra, uma das áreas mais atingidas.
O bar de Sílvio Ribeiro, de 59, funciona no primeiro piso e a casa fica no segundo andar do imóvel na Presidente Juscelino Kubitschek, bem no meio da futura barragem. “Não sei como vou fazer com meu ganha-pão”, ressalta Sílvio, que rejeita o projeto. “Isso vai virar lixão a céu aberto”, diz. Do alto do prédio, no Calafate, a dona de casa Fátima de Oliveira, de 52, acha que a bacia pode ser boa ideia: “É melhor do que a rodoviária e aqui precisamos muito de áreas de lazer, mas não dá para saber ainda quais serão os impactos para o trânsito”.
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